OS TEMAS “FRACTURANTES”, ou
OS DIREITOS DOS ANIMAIS
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 5.7.2018
Todos quantos escrevem para um público mais ou menos alargado hesitam por vezes em abordar determinados temas, não por terem dúvidas sobre as próprias opiniões, mas por temerem a reacção dos leitores, principalmente quando há uma corrente dominante, geralmente tradicionalista, que choca violentamente com a sua.
Este choque de opiniões acontece principalmente quando nos encontramos perante assuntos considerados “fracturantes” pela opinião dominante. Isso varia de época para época, de país para país, e até de região para região.
Há apenas uns meses, poderia ter graves consequências para um jornalista da Arábia Saudita defender o direito das mulheres à condução de automóveis. No entanto, as alterações legais que aboliram essa proibição, deitaram por terra esse tabu e, assim, o tema deixou de ser “fracturante”.
Servi-me de um exemplo estrangeiro mas, diz a opinião pública, com o mal dos outros estamos nós bem – e não deveríamos estar, acrescento – embora tenhamos os nossos próprios temas que só podemos “pegar com pinças”, dada a sua delicadeza.
Alguma revolução de mentalidades vem gradualmente permitindo a abordagem de temas que há apenas uns anos seriam classificados como verdadeiras heresias ou, no mínimo, como exemplos de puro mau gosto. Alguns poderiam até ser sujeitos ao peso da Lei.
No caso concreto da sociedade portuguesa, já ninguém se atreve a contestar publicamente a proibição da violência doméstica, o que não impede que, na intimidade, muitos continuem a exercê-la… O mesmo se passa com a pedofilia, a violação de mulheres – ou de homens, que também ocorre – a perseguição aos homosexuais, o racismo, a xenofobia, a deigualdade de género, a liberdade religiosa e tantas outras atitudes publicamente condenadas, quanto mais não seja em nome do conceito hoje muito expandido do “politicamente correcto”. A propósito, a generalização desta ideia, aplicada acriticamente, conduz por vezes a autênticas aberrações que só prejudicam a aplicação destes princípios.
Se estes temas deixaram de ser problemáticos entre nós – pelo menos “da boca para fora” – outros, alicerçados na Tradição, assim mesmo, com maiúscula, não podem sequer ser ventilados em certos meios ou regiões sob pena de sérios conflitos.
No Ribatejo, por exemplo, e para pegar literalmente “o touro pelos cornos”, é a tauromaquia um dos temas “mais tabus”, sendo frequentemente exercida violência sobre os seus opositores, quando contestam corridas, largadas de touros ou garraiadas no próprio local. É claro que noutras regiões, como Barrancos, o pior exemplo, são os próprios “touros de morte” que constituem tema tão delicado que o próprio poder político o tenta ignorar em nome de um populismo inaceitável.
Pessoalmente, não só condeno todas as actividades tauromáquicas, aliás dentro do espírito da actual lei que proíbe toda a violência contra os animais, como recordo aos aficionados que nas origens desta pugna “animal-besta”, como tem sido frequentemente caracterizada, há uma clara e injusta desigualdade entre os dois protagonistas, o touro e o homem: é este, o organizador da luta, que estabelece as regras, impondo-as pela força a um animal que as não pode conhecer e se limita a defender-se da violência imposta, ainda agravada com a utilização de ferros sadicamente afiados.
Este choque de opiniões acontece principalmente quando nos encontramos perante assuntos considerados “fracturantes” pela opinião dominante. Isso varia de época para época, de país para país, e até de região para região.
Há apenas uns meses, poderia ter graves consequências para um jornalista da Arábia Saudita defender o direito das mulheres à condução de automóveis. No entanto, as alterações legais que aboliram essa proibição, deitaram por terra esse tabu e, assim, o tema deixou de ser “fracturante”.
Servi-me de um exemplo estrangeiro mas, diz a opinião pública, com o mal dos outros estamos nós bem – e não deveríamos estar, acrescento – embora tenhamos os nossos próprios temas que só podemos “pegar com pinças”, dada a sua delicadeza.
Alguma revolução de mentalidades vem gradualmente permitindo a abordagem de temas que há apenas uns anos seriam classificados como verdadeiras heresias ou, no mínimo, como exemplos de puro mau gosto. Alguns poderiam até ser sujeitos ao peso da Lei.
No caso concreto da sociedade portuguesa, já ninguém se atreve a contestar publicamente a proibição da violência doméstica, o que não impede que, na intimidade, muitos continuem a exercê-la… O mesmo se passa com a pedofilia, a violação de mulheres – ou de homens, que também ocorre – a perseguição aos homosexuais, o racismo, a xenofobia, a deigualdade de género, a liberdade religiosa e tantas outras atitudes publicamente condenadas, quanto mais não seja em nome do conceito hoje muito expandido do “politicamente correcto”. A propósito, a generalização desta ideia, aplicada acriticamente, conduz por vezes a autênticas aberrações que só prejudicam a aplicação destes princípios.
Se estes temas deixaram de ser problemáticos entre nós – pelo menos “da boca para fora” – outros, alicerçados na Tradição, assim mesmo, com maiúscula, não podem sequer ser ventilados em certos meios ou regiões sob pena de sérios conflitos.
No Ribatejo, por exemplo, e para pegar literalmente “o touro pelos cornos”, é a tauromaquia um dos temas “mais tabus”, sendo frequentemente exercida violência sobre os seus opositores, quando contestam corridas, largadas de touros ou garraiadas no próprio local. É claro que noutras regiões, como Barrancos, o pior exemplo, são os próprios “touros de morte” que constituem tema tão delicado que o próprio poder político o tenta ignorar em nome de um populismo inaceitável.
Pessoalmente, não só condeno todas as actividades tauromáquicas, aliás dentro do espírito da actual lei que proíbe toda a violência contra os animais, como recordo aos aficionados que nas origens desta pugna “animal-besta”, como tem sido frequentemente caracterizada, há uma clara e injusta desigualdade entre os dois protagonistas, o touro e o homem: é este, o organizador da luta, que estabelece as regras, impondo-as pela força a um animal que as não pode conhecer e se limita a defender-se da violência imposta, ainda agravada com a utilização de ferros sadicamente afiados.
A própria “pega”, embora não aplique farpas nos touros, utiliza a sua prévia utilização, como forma de enfraquecer o animal. Tudo isto para provar a “bravura” dos toureiros e saciar multidões sedentas de sangue, como o antigo público dos jogos de anfiteatro romanos, em que eram massacrados milhares de animais e de pessoas, uns e outros igualmente escravizados.
Não podemos esquecer que na caça, outra actividade popular e inatacável entre grande número de portugueses, há uma “igual desigualdade”, embora seja considerada como uma actividade “desportiva”. Devo dizer que só consigo admitir a caça como meio de sobrevivência, ou se destinada a controlar demograficamente uma espécie cuja expansão ameaça o próprio equilíbrio ambiental, caso dos javalis entre nós. Nunca como “desporto”!
Esta minha condenação é, em suma a de quaisquer práticas que induzam o sofrimento gratuito em animais, ou a sua exibição – nos circos, por exemplo – sob formas que não correspondam à sua natureza. E não me respondam com a aparente contradição de eu, e tantos outros que pensam como eu, nos alimentarmos de carne. Isso corresponde a uma exigência milenar da própria natureza humana. Nem todos conseguem adoptar uma alimentação exclusivamente vegetariana. Mas o próprio abate desses animais deveria ser, também, tão isento de sofrimento quanto possível, o que infelizmente não acontece, quando vemos as condições penosas – e criminosas! – com que são “armazenados” antes do momento fatal.
Passo a passo nos vamos libertando da barbárie de outros tempos. Mas, acima de tudo, há que abolir definitivamente a ideia de haver “temas fracturantes”. Nunca esqueçamos que “da discussão nasce a luz”… às vezes tão brilhante que nos cega!
Esta minha condenação é, em suma a de quaisquer práticas que induzam o sofrimento gratuito em animais, ou a sua exibição – nos circos, por exemplo – sob formas que não correspondam à sua natureza. E não me respondam com a aparente contradição de eu, e tantos outros que pensam como eu, nos alimentarmos de carne. Isso corresponde a uma exigência milenar da própria natureza humana. Nem todos conseguem adoptar uma alimentação exclusivamente vegetariana. Mas o próprio abate desses animais deveria ser, também, tão isento de sofrimento quanto possível, o que infelizmente não acontece, quando vemos as condições penosas – e criminosas! – com que são “armazenados” antes do momento fatal.
Passo a passo nos vamos libertando da barbárie de outros tempos. Mas, acima de tudo, há que abolir definitivamente a ideia de haver “temas fracturantes”. Nunca esqueçamos que “da discussão nasce a luz”… às vezes tão brilhante que nos cega!
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