domingo, 20 de dezembro de 2015


Um mundo para salvar
Publicado n’O Templário de 17 de Dezembro de 2015


As actuais perspectivas mundiais são as mais sombrias deste precocemente envelhecido século XXI. Tanto no que toca ao panorama europeu, quanto ao mundial.
Aquilo que poderíamos chamar, anedoticamente, o “lado negro da força”, está tão bem representado como nunca esteve: Donald Trump, Marine Le Pen, Vladimir Putin, para não mencionar os também fanáticos dirigentes do Daesh e uma série de ditadores mais ou menos assumidos que se movem em zonas pouco claras, são a prova de que nunca como agora os aparentes inimigos se aproximam, se não nos programas de acção, mas claramente nos resultados das suas particulares políticas.
Tudo isto no meio de ameaças ambientais tão drásticas, que poderão pôr em perigo iminente países e povos inteiros, enquanto as multinacionais assobiam para o lado e os “mercados” se agitam histericamente.
As contradições acumulam-se enquanto se esboça improváveis alianças, mais fundadas no ódio do que na simpatia, em que se incuba a Guerra há muito temida e periodicamente anunciada, a Terceira na ordem mundial.
No entanto, nunca como hoje assistimos a tanta vontade colectiva para quebrar esse fadário que empurra o nosso planeta para o abismo da destruição. A Cimeira do Clima em Paris, mesmo não tendo atingido todos os objectivos propostos, pode ser a nossa última oportunidade de sobreviver a uma parte importante das ameaças globais que enfrentamos. Mas não a todas.
Também a guerra destrói o ambiente, muito especialmente quando os meios em presença representam o poder de destruição a que temos assistido, para mais tendo como alvo preferencial instalações petrolíferas cuja combustão, por si só, representa um perigo vassalador para regiões inteiras. Isto para não falar em equipamentos nucleares, químicos e tantos outros, que proliferam por esse mundo fora.
Se a tudo isto juntarmos o Medo, o capital tão eficazmente explorado pelos candidatos a ditadores que, um a um, vão surgindo no horizonte próximo, será difícil que os Cidadãos livres deste Ocidente que se reclama da Liberdade consigam evitar uma torrente avassaladora de regimes pró-fascistas.
Marine Le Pen foi detida, pelo menos de momento. A unidade democrática e republicana prevaleceu, contra todas as expectativas. É de bom augúrio, mas não cantemos vitória.
O ovo da serpente prolifera, e de que maneira|


Carlos Rodarte Veloso

domingo, 22 de novembro de 2015


Terror absoluto
Publicado n’O Templário de 19 de Novembro de 2015

Os atentados da sexta-feira 13 em Paris não são originais, nem nos métodos nem nas suas consequências, mas fazem parte de uma escalada do terror que, momento a momento, cresce e parece sugar a própria natureza humana para um buraco negro, irreversível.
O que o sinistro “estado islâmico” está a conseguir é introduzir no seu jogo perverso uma dimensão que tende a igualar carrascos e vítimas, ao transportar para o inconsciente colectivo do Ocidente os medos e os preconceitos que motivam desejos de vingança, não contra os culpados, que são os prosélitos do mesmo “estado islâmico”, mas contra bodes expiatórios encontrados mesmo à mão de semear entre os refugiados que ele próprio criou e aqui procuram abrigo.
É muito fácil a sociedades democráticas educadas nos princípios de liberdade, igualdade e solidariedade, habituadas ao primado da Razão e do Estado de Direito, perderem o rumo, fragilizadas pela violência bestial e sem-razão de atentados destre calibre.
A sua vulnerabilidade e a dificuldade que a própria ideia de Democracia implica no que toca aos direitos humanos e às garantias civis, impede-as de usar a “pena de Talião”, o famoso “olho por olho” que dominava as sociedades do Mundo Antigo e é agora recuperada por estes bárbaros do nosso tempo.
Por isso, é fácil manipular as pessoas comuns para descarregarem sobre o elo mais fraco, os refugiados que lhes batem à porta em busca da simples sobrevivência, os maiores medos do mundo, isto é, o medo da morte, da miséria, da mudança.
Não é decerto por acaso que um dos terroristas que se fez explodir no centro de Paris, levando consigo as vidas de numerosos inocentes, tinha junto de si o passaporte, em estado impecável – acentuo: em estado novo, impecável – de um refugido da Síria desembarcado na ilha grega de Lesbos. Um documento impecável num corpo desfeito, despedaçado por uma bomba!
Não é preciso sermos excessivamente desconfiados para denunciar de imediato uma tal “prova” plantada num local de tragédia. Os terroristas são hábeis em tais disfarces, mas também o são muitas autoridades, porventura infiltradas por elementos que procuram manipular a opinião pública a favor de “soluções finais”. Todos sabemos do que estou a falar.
A França vai a eleições daqui a pouco tempo e a Frente Nacional vai mobilizar as vontades contra os refugiados, bem dentro da sua ideologia fascista que vai fazendo escola na Europa, num paralelismo arrepiante com as vésperas da 2ª Guerra Mundial.
Aprendemos – aprendíamos! – História para conhecer os nossos antecedentes, o nosso património, as nossas virtudes, mas também para evitar os erros do passado. Estaremos a consegui-lo, ou tudo não passa de uma gigantesca e trágica repetição dos maiores terrores?
As sociedades democráticas têm todo o direito à legítima defesa e esse direito não pode ser relegado para o momento e que a situação de um país, de um povo, de um continente, do mundo, entra na sua fase irreversível. O Presidente da República Francesa declarou guerra à guerra que lhe, que nos movem. Neste momento, todos somos Franceses.

Carlos Rodarte Veloso

domingo, 1 de novembro de 2015


Se isto é um Presidente
Publicado n’O Templário de 29 de Outubro de 2015


O ainda Presidente da República manifestou mais uma vez a sua desonestidade política e a sua irresponsabilidade ao abandonar assumidamente uma postura de isenção em que, aliás, nunca foi muito convincente. Tem agora a pesada responsabilidade de promover selvaticamente a tal instabilidade que assacava à Esquerda, ao segregá-la para uma espécie de limbo, não lhe reconhecendo sequer a maioridade cívica que ela assumiu por  inteiro quando, em 1974, contribuiu decisivamente para a queda do Estado Novo.
O pior é que as acções inconsideradas que começou a tomar podem conduzir Portugal a um perigoso “pântano” político que poderá relançar a crise que os seus apoiantes se gabam de ter debelado, o que bem sabemos tratar-se de pura ficção.
 Talvez fosse bom fazê-lo compreender que o actual sistema político, que ele diz servir, a Democracia, não foi implantado pelos poderosos deste país, mas pela convergência de todas as forças progressistas, dentro e fora das Forças Armadas, que ansiavam por uma aurora de Liberdade para Portugal.
Mas não: Desde que cumpra a sua "parte", isto é, que agrade aos seus cúmplices - nacionais e estrangeiros - nem se importa de atiçar os sagrados mercados contra o seu próprio país! Ainda não percebeu - e nunca perceberá... - que os interesses da pandilha que chefiou em tempos, e agora o chefia a ele, colidem frontalmente com a missão que jurou cumprir, a de servir Portugal e os Portugueses. Esses Portugueses que num passado hoje cada vez mais remoto, o elegeram, convencidos de estarem perante uma pessoa de bem, mas que agora insulta, quando o seu voto maioritário aponta para soluções fora daquilo que insiste teimosamente em considerar o “arco da governação”.
Já tantos o disseram, mas nunca é demais repetí-lo: não há portugueses de “primeira” e portugueses de “segunda”! Todos os votos têm exactamente o mesmo valor, desde que não digam respeito a cidadãos falecidos, e bem sabemos como num passado de há mais de 40 anos esse “milagre” se concretizava em “maiorias absolutas” apoiadas em “manifestações expontâneas”, assalto a instituições do “Reviralho” e outras festividades afins.
Mas Cavaco e Silva não quer perceber. Diz o povo que “burro velho não aprende línguas” mas longe de mim fazer comparações desagradáveis para com este triste símbolo da velha nação portuguesa!
 É pena não dispormos, tanto quanto sei, da figura do "impeachment" na nossa Constituição. Penso que se aplicava como uma luva ao comportamento anti-democrático agora manifestado e à arrogância insuportável que se tornou a imagem de marca de um Presidente que nem sequer assume ou respeita minimamente a República que diz representar.
Na verdade, desde o corta-fitas Américo Tomás que não tinha tanta vergonha de um Presidente de Portugal. E esse era assumida e oficialmente fascista...


Carlos Rodarte Veloso

quinta-feira, 15 de outubro de 2015


Humildade
Publicado n’O Templário de 15 de Outubro de 2015

A simples hipótese de uma aliança do PS com a restante Esquerda tem levado os “vencedores” do PàF a um tão estranho como inesperado exercício de humildade perante os “vencidos”. E é mesmo “humildade” uma das palavras mais recorrentes da coligação de direita no rescaldo destas legislativas!
De facto, a verdade indesmentível é que mais de metade dos eleitores se manifestaram por uma alternativa que não abrange as forças que têm desgovernado o país desde 2011.
Esgrimem elas, agora, argumentos “constitucionais”, invocando em vão as expectativas dos Portugueses, que achariam aberrante que não governasse quem “ganhou”...  Elas, que sempre se borrifaram para a Constituição do República quando isso convinha aos seus desígnios, nada patrióticos, de espremer até ao tutano o bom povo que as tinha elegido, ao mesmo tempo que alienavam boa parte do património nacional, sempre sob a batuta estrangeira!
Na verdade, e insisto nisso, há uma maioria de Esquerda na Assembleia da República agora eleita. Se os deputados do povo se entenderem nesse sentido, a Democracia não sairá minimamente beliscada e a Constituição permanecerá o garante das liberdades cívicas. Como deve ser!
Contudo, esta atitude de humildade não é nem deve ser exclusiva dos verdadeiros vencidos destas eleições, o PàF. Também a Esquerda, com poucas excepções, está a dar mostras de uma notável abertura às ideias dos seus parceiros mais próximos, tanto mais inesperadamente quanto é verdade que a sua atitude durante o período eleitoral se pautou por ataques desenfreados entre si, especialmente contra o PS.
Agora tudo está em aberto. A humildade está na ordem do dia. Para a Direita, porque a sua “vitória” acaba por retundar numa amarga derrota e tem ainda esperança de limitar os estragos.
Para a Esquerda, porque tem agora a oportunidade histórica de salvar o país, fazendo as necessárias cedências para a criação de uma verdadeira maioria, estável e constitucional.
E não venham os “velhos do Restelo” do nosso tempo recordar o PREC, ou outras manifestações mais extremas do período revolucionário. Não venham de novo aterrorizar o povo com a imagem de desordem e de anarquia que habitualmente associam a governos de Esquerda. Já chega de mentiras!
Os  próximos dias vão ser cruciais para o nosso futuro colectivo. Assim se cumpra o desejo do Presidente da República, do consenso de uma maioria capaz de governar o país... Não o “consenso” que ele tanto se tem esforçado por alcançar, mas aquele em que os verdadeiros representantes dos interesses populares, humilde mas firmemente, juntem forças, saibam distinguir entre o essencial e o acessório e resgatem as promessas de Abril.


Carlos Rodarte Veloso

quinta-feira, 8 de outubro de 2015


O que faremos com estes votos?
Publicado n’O Templário, 8 de Outubro de 2015

A “vitória” do PàF nas eleições legislativas do domingo passado, poderá – ou não – ser considerada uma “vitória de Pirro”, e isso depende única e exclusivamente do comportamento das diversas forças da Esquerda que, no conjunto, arrecadaram a maior soma de votos e, consequentemente, de deputados.
Esse facto, inquestionável em termos numéricos, numa Assembleia da República que vê agora terminado o longo diktat do PSD e do seu irrevogável apêndice, o PP, é menos evidente do ponto de vista da eficácia.
A prova disso é a esperada posse de um executivo que, com mínimas diferenças, será exactamente o mesmo que sai agora minoritário destas eleições.
O facto historicamente comprovado da enorme dificuldade que as forças de Esquerda manifestam para se entenderem numa estratégia comum contra a Direita, tão evidente agora como o foi em tantos momentos trágicos do passado mais ou menos recente da Europa, conspira activamente contra a tão necessária defesa dos interesses do nosso massacrado povo.
Um artigo de Rui Tavares, líder do Livre/Tempo de Avançar, publicado no Público de 5 de Outubro, põe o dedo na ferida. Não por acaso, intitula-o “A maldição do arco da governação”.
De facto, a caracterização de alguns partidos como aceitáveis – não necessariamente pelo povo português, mas por instâncias externas! – para governar Portugal, tornou-se uma autêntica armadilha para a própria soberania nacional. Se só se podendo escolher entre um número limitado de forças políticas, ostracizando todas as outras, está-se a prestar um péssimo serviço à Democracia. Esse é o nosso regime, lembram-se?
É claro que o PSD, embora com o já histórico abuso da sua denominação, pois é tudo menos social-democrático, e o Partido Socialista, dentro já do espectro da Esquerda tradicional, congregam uma parte importante das tendências políticas em Portugal.
Ambos são fundamentais à representação das tendências políticas nacionais, mas verifica-se, com cada vez mais evidência, que outros partidos mantém um elevado nível de adesão popular, representando uma muito significativa percentagem da população, o que foi especialmente evidente no passado domingo, em que Bloco de Esquerda e PCP obtiveram uma notável  expressão eleitoral.
Por isso e cada vez mais, é tempo de olhar para a unidade da Esquerda como um imperativo de consciência e a última oportunidade de criar uma frente capaz de salvar Portugal dos seus espoliadores e de lhe permitir recuperar a soberania e a dignidade que como país quase milenar amplamente merece.
Responsabilidades acrescidas para o Partido Socialista, que apesar do insucesso relativos dos seus resultados, mesmo assim dos melhores que até hoje obteve, sofre agora a erosão tão tradicional nas equipas de futebol, de ver o seu “treinador” atacado por outros candidatos ao cargo, mais preocupados com o seu “ego” transbordante, do que com o bem comum, do Partido e do País.
Deviam esses senhores pôr a mão na consciência e pensar no quanto os seus cálculos eleitoralistas, caciquismo quanto baste e a própria contradição ideológica em que frequentemente incorreram, não teria contribuido para diminuir as possibilidades de uma vitória esmagadora sobre a Direita.
E deviam também lembrar-se de que a Política, com maiúscula, não é um jogo de futebol, por muito empolgante que ele seja: é a própria vida das Pessoas!
Mas, mesmo assim, foi uma vitória. E tão boa, que é tempo de assumir que quaisquer abébias concedidas ao este “novo” governo representam uma crueldade indesculpável para com o nosso povo. É altura de olhar para a Esquerda como o parceiro privilegiado para a mudança, para a tão falada “refundação” de Portugal... e da Europa!
O Bloco e o PCP deram já mostras de disponibilidade. É um princípio, um muito bom princípio!
António Costa é  líder do PS e deve continuar a sê-lo, dando assim expressão ao movimento de fundo que lhe deu esse cargo. Tenho a certeza de esse apoio se manterá e reforçará nos próximos tempos. Assim consiga ele manter-se fiel aos ideais que norteiam o Socialismo!


Carlos Rodarte Veloso

quinta-feira, 1 de outubro de 2015


Uns cofres cheios de mentiras
Publicado n’O Templário, 1 de Outubro de 2015

Faltam, no momento em que escrevo, apenas cinco dias para as eleições legislativas e a par das constantes mentiras difundidas por um governo não demasiado confortado pelas inacreditáveis – e suspeitíssimas – sondagens que lhe dão maioria, lá vão aparecendo algumas notícias que desvendam, para além da ponta do icebergue, a podridão sobre a qual foi sendo erigida a ficção de seriedade, honestidade e competência que ele próprio se atribui.
Vem agora a Antena 1 revelar uma singularíssima operação de cosmética encomendada por Maria Luís Albuquerque, quando era ainda secretária de Estado do Tesouro, à empresa pública Parvalorem, para que reduzisse contabilisticamente os prejuízos registados com o crédito mal parado do Banco Português de Negócios.
Esta pequena vigarice, designada como “trabalho cirúrgico”, conseguiu reduzir em cerca de 150 milhões de euros os prejuízos do banco, com a intenção de desagravar o défice de 2012.
Foi esta seriísma senhora, hoje ministra das Finanças, que anunciou a um país de tanga  que os cofres estavam cheios e haveria margem de manobra para enfrentar eventuais dificuldades conjunturais!
É claro que até vésperas das eleições alguma declaração virá do governo, não necessariamente para desmentir esta notícia, mas talvez para a encobrir piedosamente com o nevoeiro de alguma “revelação” de última hora sobre Sócrates, ou o Siriza, ou sobre algum socialista, ou familiar de um socialista, ou qualquer coisa que possa confundir a opinião pública... Nem será preciso prová-la, porque estaremos mesmo em cima das eleições, e não haverá tempo para isso...
Entretanto, alguns maduros acharam por bem recolher antigas declarações de Passos Coelho, quando ainda longe do poder e também nos primeiros anos da sua ascensão miraculosa e compilá-las num pequeno vídeo que, confesso, me deixou boquiaberto apesar da “boa impressão” que este senhor sempre me inspirou. Isso explica a capacidade de se contradizer que é seu apanágio. E sem sequer se rir!
Será um visionamento altamente educativo para todos quantos ainda confiam na pose “de Estado” deste mestre das mentiras. O vídeo tornou-se viral na internet e será fácil aceder às sua imagens e som.
Em verdade vos digo que toda a argumentação destes senhores assenta apenas e unicamente em inspirar o medo da mudança junto de uma população fragilizada pelos actos predatórios que eles próprios cometeram e continuam a cometer.
Bem podem Passos Coelho e o seu apêndice, o “homem irrevogável”, continuar a reescrever uma história cuja verdade cada vez mais entra no domínio da fantasia.
Os Portugueses não são masoquistas e dentro de cinco dias e independentemente de todas as “sondagens”, a verdadeira e definitiva Sondagem, nas urnas da Democracia, terá a palavra final!


Carlos Rodarte Veloso

sábado, 26 de setembro de 2015


O MISTÉRIO DA SONDAGENS

(Publicado n’O Templário de 24-9-2015)


Vivemos num país cujo nível de vida e as expectativas de progresso moral e material se deterioram dia após dia, apesar da propaganda em contrário dos senhores do regime.
Dentro da classe média e do operariado que resta, os cortes em todos os benefícios, dos salários à segurança social, foram tão drásticos, que podemos falar de um retrocesso às últimas décadas do século XX. Entretanto, uma percentagem arrepiante dos jovens e de muitos cidadãos de meia-idade são arrastados para o desemprego e para a emigração. Muitos desses cidadãos jovens possuem graus académicos, muitas vezes especialidades vitais para o desenvolvimento do país, mas são obrigados a ir oferecê-las a países estrangeiros onde vêem reconhecidas as suas aptidões e onde encontram um modo de vida decente, sem dependerem das gerações mais velhas, elas próprias reféns de um governo incompetente e desumano. Os idosos são vilipendiados, chegando a ser chamados “peste grisalha”!
Tudo o que atrás ficou dito é do conhecimento geral e basta falar com quem quer que seja nos locais públicos onde os menos favorecidos têm assento, tais como os hospitais, centros de saúde, estabelecimentos de ensino públicos, no simples comércio, nos empregos, nos transportes públicos, e as opiniões maioritárias revelam a mais profunda antipatia e até desprezo por essas personagens cinzentas que a bordo de mercedes ou audis e do alto dos seus gabinetes climatizados, governam governando-se.
E, no entanto, as sondagens dão um autêntico empate entre as intenções de voto a favor desses engravatados arrogantes e desumanos e aqueles que querem corrigir, por vezes drasticamente, os abusos, a miopia, a estupidez até. Mistério profundo!...
Porque, chamemos os bois pelos nomes, é inacreditável, dado o estado do país e a revolta profunda que grassa contra o governo e os seus apoiantes, que as sondagens os beneficiem quando, a crer nos sinais transmitidos diariamente pela sociedade, a todos os níveis, o povo português anseia pelo momento em que “eles” serão corridos dum Poder usurpado às promessas de Abril.
Num momento crucial como o que vivemos, não há lugar para dúvidas: ou se vota pela continuação da desgraça em que vivemos nos últimos anos, na Direita portanto, ou se escolhe a mudança,  ela só possível levando a Esquerda ao poder.
O problema das sondagens é que elas próprias funcionam, menos como meios credíveis de auscultação da vontade popular, mas como agentes de manipulação da opinião pública, assim da perpetuação do regime. É evidente que as instituições que são encarregadas dessas sondagens se inscrevem num jogo que nada tem de isento. Se o próprio Instituto Nacional de Estatística é claramente instrumentalizado para favorecer as teses do governo, e isso tem sido bem evidente desde a aproximação da data das Eleições legislativas!
Em quem confiar então? Decerto não nos instrumentos que o poder tem à sua disposição para manipular o voto. Nem nos instituto de sondagens, nem nas televisões, rádios e  seus comentadores, tão pouco em boa parte da imprensa escrita e, até, em muita internet. Talvez o melhor seja que cada cidadão, prejudicado de múltiplas maneiras por esta “democracia” apenas nominal, que todos aqueles que viram pessoas da sua família, amigos e conhecidos atingidos pela praga do desemprego, da perda de direitos, da  pobreza, olhem para si, para o país que temos e é nosso, e entupam as urnas de voto com o enorme manguito que este governo merece!
.

Carlos Rodarte Veloso

sábado, 19 de setembro de 2015



A OBSESSÃO DE PASSOS COELHO

Obsessão
Publicado n’O Templário, 17-9-2015

A actual campanha eleitoral tem-se caracterizado por comportamentos cuja correcção, quer do ponto de vista político, quer moral, deixam muito a desejar.
Não é invulgar, muito pelo contrário, a utilização da demagogia e das meias-verdades para induzir o voto, prática generalizada nos actos eleitorais em todas as latitudes, mas é visível que essa prática já atingiu níveis estratosféricos entre nós, nestas Legislativas.
O caso mais paradigmático é o de Passos Coelho, cuja capacidade de comunicação dos grandes dossiers da nossa vida política se resume à repetição “ad nauseam” de uma mantra que, como todas as mantras, decerto se destina a obter a sua paz interior num mundo que parece confundi-lo cada vez mais.
De facto, a oposição insiste teimosamente em alguns itens cujo esclarecimento é fundamental para um voto esclarecido por parte dos eleitores: as questões da segurança, social, das pensões, do Serviço Nacional de Saúde, dos impostos, da dívida pública, do ensino público, das privatizações, da promiscuidade Estado-Banca, da renegociação da dívida...
Pois em resposta a todas estas questões vitais para a  nossa sociedade e para o que resta da nossa soberania, Passos Coelho invoca, sistematicamente, os malefícios do governo de Sócrates e do Siriza, como argumentos decisivos e explicativos de todo um programa de governo que se limita e esboçar na generalidade.
Para ele toda a oposição vive nas nuvens e mais não pretende do que minar a “estabilidade” que o País teria atingido por obra e graça da sua política e, do alto da sua torre de marfim, repete obsessivamente a ladaínha que a falta de argumentos lhe sugere. Como para Goebbels, "uma mentira repetida milhares de vezes torna-se verdade”.


Carlos Rodarte Veloso

domingo, 13 de setembro de 2015


OS REFUGIADOS, A ESQUERDA E AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

O problema dos refugiados é crucial, mas duvido que haja muitos deles interessados no nosso País, apesar das fantásticas "melhorias" que o actual governo promoveu.. Eles querem a Alemanha, o Reino Unido, a Holanda... Claro que muitos terão que se contentar com o refugo, ou seja, países cujo êxito económico e social seja tão evidente, como o nosso... Por isso, acho que o actual debate sobre os refugiados é uma cortina de fumo, pretexto apenas para atacar a Esquerda que, como os seus inimigos bem o sabem, é a única força interessada na justiça social, na defesa dos fracos - de qualquer nacionalidade, etnia ou religião - e, assim, destes desterrados das suas pátrias martirizadas. Este momento é o de juntar todas as forças para destituir este governo desumano e incompetente que tem destruído Portugal e substituí-lo por algo de que não nos envergonhemos. Com os nossos votos! Estamos divididos - é o "destino" da Esquerda... - mas temos que pôr de lado as nossas diferenças, nem sempre assim tão grandes e, sem deixar ninguém de fora, criar uma grande Coligação, capaz de dar a volta à situação. Se não temos estratégias comuns em relação a todos os dossiers, juntemo-nos, ao menos pontualmente em relação a tantos e tantos problemas que nos unem desde sempre. Vamos destituir esta cambada de oportunistas e mentirosos, em nome da mais simples decência!

Para merecermos o País de Abril!

Carlos Rodarte Veloso

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

CRIMES DO "ESTADO ISLÂMICO" - QUE FAZER?

Palmira e a Civilização
Publicado n’O Templário, 27-8-2015

E pronto! Palmira, a “Pérola do Deserto”, a cidade-mártir da selvajaria do auto-denominado Estado Islâmico, aquela que, em 21 de Maio era ocupada pelos seus sinistros sequazes, foi agora duplamente amputada, selvaticamente amputada depois das vãs promessas dos perpetradores de lhe pouparem ao menos os edifícios históricos, considerados Património da Humanidade:
Amputada na pessoa do seu histórico guardião, o octogenário Khaled al-Assad, assassinado e decapitado após um mês de interrogatórios por se ter recusado a revelar o esconderijo de estátuas da cidade, consideradas pelas seus carrascos como “ídolos heréticos”. Por ter resistido à tortura a que sem dúvida o submeteram, o seu corpo amputado foi pendurado num poste.
Amputada também pela destruição à bomba dum dos mais emblemáticos edifícios do seu passado clássico, o templo de Baal-Shamin, construído no ano 17 da era cristã com o derrube das suas colunas e a destruição da sua parte central, a “cella”.
Retomando o meu artigo de 4 de Junho, recordo as múltiplas destruições e pilhagens antes perpetradas ao longo dos quatro anos de pesadelo que têm enlutado a Síria e todos os outros países invadidos pelos selvagens jihadistas, e lançaram na rota da Europa centenas de milhar de refugiados, fugindo à guerra e à miséria e dando origem ao maior desastre humanitário deste século.
A ONU já classificou os últimos eventos de Palmira como crime contra a humanidade. Na verdade, todo o decorrer desta guerra dementada não revela nada mais do que a permanente prática de crimes contra a humanidade, que transbordam do Médio Oriente para todo o mundo, através de uma guerra sem quartel e de atentados terroristas de todo o tipo.
Portugal, parte do antigo Califado de Córdova, foi já mencionado por responsáveis jihadistas, como um dos alvos de conquista futura.
Toda a Europa, todo o mundo está na mira desse bando de assassinos que fogem à própria classificação de seres humanos, enquanto a nossa alegre União Europeia se entretém martirizando os seus membros mais fracos e limitando-se a emitir uma tímida condenação contra as ameaças que se avolumam contra a nossa Civilização.
Não se trata de pregar a cruzada com que o inacreditável George W. Bush abriu a autêntica caixa de Pandora que deu o desejado pretexto a todos os fanáticos de um Médio Oriente explorado à vez pelos Ocidentais e pelos seus particulares ditadores.
Trata-se do direito que todos os povos do mundo têm à legítima defesa perante uma premeditada agressão que só terminará com a sua subjugação total e a destruição de um modo de vida que, por muitos defeitos que tenha, não tem comparação com a submissão à sharia, o retrocesso à pré-história.
Não tenho a menor dúvida de que só a destruição desse pretenso Estado Islâmico poderá salvar o mundo de um retrocesso sem retorno. A sua destruição pelas armas. E isso só será possível através da unidade de todos os países civilizados, pondo de lado os egoísmos nacionais e a ganância pura  simples que tem sido a marca dos últimos anos.

Carlos Rodarte Veloso

quinta-feira, 30 de julho de 2015


O que nós devemos à Grécia
Publicado n’O Templário de 30-7-2015
Tornou-se uma espécie de exercício de exorcismo do executivo que nos “governa” bandear-se com os nossos credores da Europa contra a Grécia, o membro “mal comportado” do clube de prosperidade de que a  União Europeia se autoproclama.
Este embandeirar com os fortes contra os fracos, já antes o afirmei, não passa de uma comportamento indigno, no mínimo cobarde, verdadeiro acto de “bullying” para obter as boas graças dos agressores.
No entanto, essa cobardia em que o governo português emparceira com outros fracos desta Europa cada vez menos solidária, apenas equivale à enorme ignorância de todos eles em relação a tudo aquilo que devemos a esse velho país onde a própria Europa nasceu, a Hélade.
Não se trata “apenas” desse território montanhoso e penetrado pelo mar Mediterrâneo onde marinheiros e poetas, guerreiros e pensadores inventaram uma parte da nossa Língua, onde as formas artísticas que hoje veneramos tiveram a sua origem, onde nasceram as estórias e a História que é hoje património comum, onde aprendemos a pensar.
É nessa geografia agreste e luminosa que florescem a vinha e a oliveira, amorosamente transplantadas para a nossa finisterra, em que se perpetua a lembrança dos mitos, as belas e terríveis aventuras da mente e das relações humanas que deram origem à Tragédia, à Poesia e à Filosofia, mãe de todas as Ciências.
É aí, em pequenas cidades, que floresce a Democracia, sucedendo esta à Oligarquia e à Tirania, palavras todas elas tão gregas como o Caos e o Cosmos, Ágora e Acrópole, Técnica e Magia, Heroísmo e Ironia, Lógica e Fantasia, Política e Olimpíadas...
E é também com as acções que os Gregos, do Passado e do Presente, nos inspiraram e inspiram; na Paz e na Guerra, pequeno povo que soube engrandecer-se face às potências que o agrediram, século após século.
Os Persas, tão poderosos, que não acreditavam que um povo que discutia na praça pública os assuntos do Poder pudesse fazer-lhes frente; e, contudo, aí estão as Termópilas, Maratona e Salamina.
E outros, ao longo da História, dos Turcos à Alemanha nazi, obrigada a desistir de outras frentes de guerra para acudir à derrota maciça da Itália fascista na sua frustrada invasão da Grécia. Tão próxima de nós, Portugueses, que lhe devemos agradecer o ter-nos poupado a uma invasão na 2ª Guerra Mundial, quando a “neutralidade” de Salazar não era suficiente para conter a ganância de Hitler.
E o perdão da dívida alemã, depois desse massacre inacreditável, da destruição de tantos países e povos? É assim que a gorda Alemanha, que a gorda Europa da prosperidade paga a esse povo que tanto nos deu?
É bom que a memória desta nossa Europa não se esvaia no auto-contentamento dos imbecis que apenas sabem olhar para o próprio umbigo. Que as dívidas, todas as dívidas, sejam finalmente saldadas.

Carlos Rodarte Veloso

sábado, 27 de junho de 2015


Mitos urbanos

Publicado em “O Templário” de 25 de Junho de 2015

 É um verdadeiro lugar-comum dizer que os políticos mentem. Creio que não há profissão no mundo mais exposta a esse tipo de acusação, infelizmente com sobejas razões. Já é menos vulgar que esses mesmos indivíduos sejam descarados ao ponto de contradizer anteriores declarações registadas nos media, agora perante uma assembleia de outros políticos – e do país em peso – que são testemunhas presenciais ou em diferido, das ditas, agora desditas declarações...
E, no entanto, foi o que se passou com o nosso primeiro-ministro durante uma muito recente sessão da Assembleia da República.
Vem ele agora declarar que o seu convite aos jovens desempregados para emigrar não passa de uma invenção, de um “mito urbano”, dos muitos com que tem sido mimoseado pela pérfida Oposição.
Releio as diversas declarações, dele e de colaboradores seus, e a ideia que me fica é de que Passos Coelho tenta, literalmente, atirar areia para os olhos dos seus potenciais eleitores.
Se não, vejamos: na sua entrevista de Dezembro de 2011 ao Correio da Manhã, ele aconselha a emigração aos professores desempregados, como forma de evitar o desemprego. E cito: "Angola, mas não só Angola, o Brasil também, tem uma grande necessidade ao nível do ensino básico e do ensino secundário de mão de obra qualificada e de professores. Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm nesta altura ocupação e o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou querendo-se manter, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa"
Que não é uma declaração desligada do contexto, provam-no declarações no mesmo sentido, proferidas nos meses anteriores por Alexandre Mestre, secretário de Estado da Juventude e Desporto e por Miguel Relvas, seu ministro adjunto dos Assuntos Parlamentares, amigo e homem de confiança.
Alexandre Mestre, numa deslocação ao Brasil, convidava os jovens portugueses desempregados, a emigrar, e cito, da agência Lusa: “Se estamos no desemprego, temos que sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras”. Miguel Relvas reitera em 16 de Novembro tais declarações perante a  Assembleia da República, como forma de encontrar oportunidades, “fortalecer a formação” e “conhecer outras realidades culturais”!
Para quem duvide de que as declarações prestadas por Passos Coelho em Dezembro de 2011 estão perfeitamente integradas no pensamento e na política do governo que dirige, ou seja, dentro do contexto, basta comparar as três declarações atrás citadas. Há uma coerência perfeita entre estes três políticos, na ligeireza, na arrogância e no próprio desconhecimento da cultura que deveria ser a sua: como pode um governante vir convidar os seus concidadãos a “conhecer outras realidades culturais”, quando ignora absolutamente a do próprio país?
E que não é uma atitude desgarrada, recordo que o conceito de “zona de conforto” já antes tinha sido utilizado pelo próprio primeiro-ministro que, chocantemente, acusa os seus acusadores de “piegas”. É um princípio da contrapropaganda – aprendi-o na tropa – que repetir insistentemente uma mentira, ou um qualquer disparate, acaba por convencer os mais prevenidos – quanto mais os ingénuos... E se tais dislates forem proferidos com uma voz bem colocada, tendo em particular atenção uma imagem simpática e carinhosamente cultivada, não haverá criatura que resista!
Temos então, agora, os “mitos urbanos”. Sempre actualizado o nosso primeiro-ministro... Até dá gosto!

Carlos Rodarte Veloso

quinta-feira, 18 de junho de 2015


Sinais dos Céus
dilúvios, terramotos, cometas, Fátima e o que mais quiserem
Publicado n’ O Templário de 18 de Junho de 2015

 As  recentes inundações na capital do antigo estado soviético da Geórgia deixaram atrás de si um rasto de mortes e destruição, em que foi especialmente atingido o jardim zoológico da cidade. Os animais selvagens, libertados das suas jaulas pelas águas torrenciais, percorreram as ruas de Tbilisi, num espectáculo de verdadeiro apocalipse.
O patriarca ortodoxo do país não perdeu esta excelente oportunidade para  levantar a voz a “explicar” a tragédia como um castigo divino, por a construção do dito Zoo ter sido paga com o produto da fundição dos sinos das igrejas do país, por ordem do governo comunista de então.
Este tipo de argumentação não é novo na história: É tão velho quanto a existência das religiões – o mesmo que é dizer: da humanidade – e até pode ser considerado “aceitável” num estádio pré-científico dos conhecimentos.
Terramotos, tempestades, erupções vulcânicas, queda de meteoros, incêndios, inundações, também as próprias guerras... Deus ou os deuses estavam de olho nesta humanidade pecadora e, quando lhes dava para isso – os seus desígnios costumam ser imperscrutáveis – lá vinha um sismo, um dilúvio, uma qualquer desgraça global ou, até, um simples eclipse do Sol, anúncio de outras garantidas calamidades.
Nem precisamos de recorrer às religiões pagãs, tão férteis em sinais divinos, sinais esses herdados pelo Cristianismo nas suas diversas confissões. A Bíblia no seu Antigo Testamento está cheia desse sinais da reprovação, do castigo de um Deus intransigente com as mais pequenas faltas, permanentemente irado com as suas criaturas, ao ponto de experimentar a fé e a lealdade dos homens, submetendo-os a provações inacreditáveis... Como a exigência do sacrifício do próprio filho, como teria acontecido com Abraão, ou a miséria e a desgraça inultrapassáveis lançadas sobre um incondicional crente como Job...
Mas deixemos esses exemplos arrepiantes e detenhamo-nos “apenas” no irracionalismo  
que, desde a Idade Média, tem inundado o discurso de muitos responsáveis religiosos, “santos” até, sem distinção de crença ou de estatuto.
A nossa história está cheia de exemplos dos vicios e das virtudes a que as épocas de crise deram azo. Como após o terramoto de 1531, no tempo de D. João III, quando o grande Gil Vicente teve a coragem de enfrentar os frades que acusavam os Judeus de serem os culpados pelo sismo, enviando ao rei a famosa carta escrita nesse ano em Santarém, autêntico libelo contra o fanatismo e a irracionalidade.
Ou do padre António Vieira enfrentando o sinistro poder da Inquisição durante a Restauração, “crime” pelo qual foi perseguido e proscrito. E, no entanto, este mestre da nossa Língua e grande patriota também pecou pela interpretação dos sinais dos céus quando, em 1695, a visão de um cometa lhe inspirou uma meditação profética.
Ou quando, em 1917, muito a propósito do contexto político nacional, são noticiadas as famosas aparições em Fátima, em que a famosa “dança do sol”, nunca atestada por nenhum observatório astronómico, nacional ou internacional, entra defintivamente no imaginário português, conduzindo anualmente milhões de crentes à Cova da Iria...
Sempre e sempre as épocas de crise deram azo ao aproveitamento de quaisquer fenómenos menos comuns como sendo avisos celestiais, repetindo ad nausea “argumentos” teológicos contra quaisquer novidades que ponham em causa o status quo. Argumentos servindo de arma de arremesso a favor de velhos interesses instituídos ameaçados pelo progresso político e social.
E as desgraças colectivas que coincidiram com esses “milagres”, essas manifestações da divina providência? Dentro da “lógica” ultramontana dessa boa gente, não seria caso para nos  perguntarmos sobre a interpretação do surto da terrível gripe pneumónica que ceifou, só em Portugal, umas 120 000 vidas? E, no entanto, ocorre a partir do ano de 1918, no ano a seguir às aparições, quando governava Portugal o “rei-presidente” Sidónio Pais, o mais católico dos portugueses. E vitima, entre os milhares já referidos, nem mais nem menos do que Francisco e Jacinta Marto, os santos pastorinhos de Fátima!
Mensagem dos Céus? Seria tão estúpido e desonesto associar tais factos, como vir agora o patriarca da Geórgia invocar pecados do passado para “explicar” fenómenos naturais!
A Razão e o Humanismo nunca pactuarão com as acrobacias dialécticas do Irracionalismo e essa é a garantia de que acabarão por triunfar.

Carlos Rodarte Veloso