sábado, 7 de janeiro de 2017


RETÁBULOS E PORTAIS BARROCOS TRANSMONTANOS//Por
Carlos Rodarte Veloso
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18 min
RETÁBULOS E PORTAIS BARROCOS TRANSMONTANOS//Por
CARLOS RODARTE VELOSO
“Santos de casa não fazem milagres” é um ditado popular bem português e que se aplica como uma luva à investigação na História da Arte em Portugal.
Na verdade foi um catalão, Eugenio d’Ors, a conceber uma controversa tese sobre a divisão dos estilos artísticos de acordo com as ideias de Nitzsche sobre “o espírito apolíneo e o espírito dionisíaco” – aquilo a que chamou os “éons” – respectivamente aplicadas à arte clássica e ao Manuelino, apresentado este como o primeiro Barroco.
Um francês, Paul Evin, que desmitificou definitivamente a lenda do Manuelino como arte dos descobrimentos e originária do nosso país.
George Kubler, um norte-americano, a teorizar sobre o nosso estilo maneirista na arquitectura, aplicando-lhe a classificação de “estilo chão”, designação ainda hoje operativa.
O francês, Germain Bazin, a produzir a primeira tentativa classificativa da talha barroca portuguesa, classificação essa que acabou por ser praticamente posta de lado devido ao aparecimente do norte-americano, Robert Smith, que estudou a fundo a talha barroca portuguesa produzindo aquilo que é, ainda hoje, o estudo mais completo dessa nossa arte decorativa, o livro “A Talha em Portugal” (Livros Horizonte, Lisboa, 1962), ainda hoje a principal obra de referência sobre esta matéria.
O seu estudo foi aplicado a toda a arte retabular e aos cadeirais, púlpitos e outros produtos desta actividade artística que se converteu numa verdadeira imagem de marca de Portugal. Outro livro de Robert Smith, “Cadeirais de Portugal” (Livros Horizonte, Lisboa, 1968) vem aprofundar a matéria do primeiro, publicando entretanto numerosas monografias sobre obras de talha e os seus autores.
É nestas obras que o investigador enuncia a classificação que atribui aos retábulos portugueses de finais do século XVII, inícios do XVIII, a que chamou do “Estilo Nacional”, distinguíveis portanto dos retábulos espanhóis da mesma época e perfeitamente isolados dos da época de D. João V, “joaninos” e com fortes influências italianas.
Estes retábulos do “Estilo Nacional” – a que Flávio Gonçalves prefere a designação de “Estilo Português” – são caracterizados pelas suas colunas pseudo-salomónicas, inspiradas nas colunas do baldaquino da Basílica de S. Pedro de Roma, de Bernini (Fig. 1 – Baldaquino de Bernini), mas com um diferente tratamento das suas espirais que, no caso português têm uma decoração igual e contínua ao invés da sua diferenciação no caso italiano .
Outra característica do “Estilo Nacional” é a continuação dessas colunas em arcos concêntricos “românicos”, unificando o conjunto em jeito de arquivoltas (Fig. 2 – Altar-mor da Igreja de S. Vicente de Bragança, wikipedia.org/wiki/Igreja_de_São_Vicente). Finalmente, os elementos decorativos, claramente eucarísticos, com as suas folhas de videira, cachos de uvas, fénices e querubins, os “putti”, folhas de acanto, por vezes enquadrando uma tribuna vasada ao centro, destinada a outra inovação potuguesa, o trono de altar piramidal, destinada a suportar o Santíssimo Sacramento ou alguma outra imagem de culto.
Esta introdução, que já vai longa, destina-se a enquadrar aquilo que Robert Smith considera uma excepcionalidade transmontana, os portais de granito do Nordeste Transmontano, utilizando elementos do estilo nacional. É o caso dos portais da Igreja de Santa Maria de Bragança e da Misericórdia de Murça (Fig. 3 e 4 – Portal da Igreja da Misericórdia de Murça e elementos decorativos), em que se pode apreciar grande parte dos elementos atrás referidos.

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