ARTE E PROPAGANDA DA ANTIGUIDADE
AO SÉCULO XIX
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 9 de Novembro de 2017
A Arte como instrumento do poder,
manifestado pela produção de objectos artísticos a ele associados simbolicamente
– tronos, ceptros, coroas – manifestou-se também através da narrativa gráfica
das acções de semi-deuses, heróis, reis, sacerdotes, mártires ou combatentes,
atribuindo-lhes acções ou qualidades excedendo ou manipulando de forma
laudatória a realidade histórica.
A arte assim produzida podia
manifestar-se na magnificência dos monumentos ou na representação plástica
falseada de eventos significativos destinados a exaltar a figura de poder.
Dentro desta lógica inclui-se a
descrição de vitórias militares nem por isso muito conclusivas, como êxitos
estrondosos. É o caso do grande número de representações da batalha de Kadesh travada c. 1300 a.C. entre o faraó Ramsés II e
o rei dos Hititas, apresentada como uma vitória indiscutível dos egípcios. Na
verdade tratou-se de um “empate” em termos militares, já que as posteriores
negociações e o tratado de paz que se lhe seguiu equiparam os dois monarcas,
sendo ambos agraciados pelo adversário com ricos presentes e a oferta em
casamento de uma das respectivas filhas como forma de garantir a paz entre as
duas potências. Mas os baixos-relevos, pinturas murais e em papiro (fig. 1) sobreviveram até aos nossos dias,
alimentando o mito de faraó invencível, um dos mais antigos exemplos conhecidos
da propaganda política na História da Humanidade.
Todos os povos da Antiguidade, mas
também os das restantes épocas até aos nossos dias tiveram o cuidado de
difundir uma imagem, geralmente muito exagerada dos seus êxitos e da justeza do seu programa político, social ou
religioso.
Os Romanos , depois de concluído o
cortejo monumental pelas ruas de Roma –
o “triunfo” – destinado a homenagear o general vitorioso numa batalha ou numa
campanha militar decisiva, construíam arcos de triunfo comemorativos, como o de
Tito (fig.2), filho do imperador Vespasiano, ele próprio posterior governante
do Império, destinado a fixar para a posteridade a sua vitória sobre os Hebreus
no ano 70.
Este tipo de monumentos comemorativos
não ficou limitado à época romana, mas foi utilizado durante a época
contemporânea, ao serviço de governantes como Napoleão Bonaparte, promotor dos
arcos de triunfo parisienses “du Carrocel” e de “l´´Étoile”, comemorando as
suas vitórias, embora também o bélico rei da Prússia Frederico Guilherme II
tenha feito erigir, em Berlim, a famosa Porta de Brandenburgo, entre 1788 e 91,
como símbolo da paz!
Também a Igreja católica se apropriou da
Arte como meio de propaganda religiosa, quer edificando igrejas cada vez mais
esmagadoras em termos de grandiosidade e beleza, de que a Basílica de S. Pedro
em Roma e a grande praça que a envolve (fig. 3) são o exemplo cimeiro, quer
difundindo imagens dos mártires e santos do catolicismo, em atitudes patéticas,
quer incluindo chocantes cenas de martírio, imagens essas que passam a ser
“regulamentadas” pelas decisões do Concílio de Trento no ano de 1563 sobre o
culto dos santos, as quais são impostas a todos os artistas de imagens sacras.
No entanto, a componente religiosa da
propaganda é indissociável da componente política, já que o poderoso clero
católico intervinha nas decisões dos monarcas através do conselho e influência
dos seus padres confessores, possuindo ainda a tenebrosa arma repressiva do
tribunal da Inquisição que nem os governantes poupava, contribuindo para a
manutenção do atraso económico e social dos estados de obediência à Santa Sé, de
que Portugal é um dos exemplos máximos.
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