quinta-feira, 16 de novembro de 2017


ARTE E PROPAGANDA DA ANTIGUIDADE

AO SÉCULO XIX

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 9 de Novembro de 2017

A Arte como instrumento do poder, manifestado pela produção de objectos artísticos a ele associados simbolicamente – tronos, ceptros, coroas – manifestou-se também através da narrativa gráfica das acções de semi-deuses, heróis, reis, sacerdotes, mártires ou combatentes, atribuindo-lhes acções ou qualidades excedendo ou manipulando de forma laudatória a realidade histórica.
A arte assim produzida podia manifestar-se na magnificência dos monumentos ou na representação plástica falseada de eventos significativos destinados a exaltar a figura de poder.
Dentro desta lógica inclui-se a descrição de vitórias militares nem por isso muito conclusivas, como êxitos estrondosos. É o caso do grande número de representações da batalha de Kadesh  travada c. 1300 a.C. entre o faraó Ramsés II e o rei dos Hititas, apresentada como uma vitória indiscutível dos egípcios. Na verdade tratou-se de um “empate” em termos militares, já que as posteriores negociações e o tratado de paz que se lhe seguiu equiparam os dois monarcas, sendo ambos agraciados pelo adversário com ricos presentes e a oferta em casamento de uma das respectivas filhas como forma de garantir a paz entre as duas potências. Mas os baixos-relevos, pinturas murais e em papiro  (fig. 1) sobreviveram até aos nossos dias, alimentando o mito de faraó invencível, um dos mais antigos exemplos conhecidos da propaganda política na História da Humanidade.


Todos os povos da Antiguidade, mas também os das restantes épocas até aos nossos dias tiveram o cuidado de difundir uma imagem, geralmente muito exagerada dos seus êxitos e da  justeza do seu programa político, social ou religioso.
Os Romanos , depois de concluído o cortejo monumental pelas ruas de Roma  – o “triunfo” – destinado a homenagear o general vitorioso numa batalha ou numa campanha militar decisiva, construíam arcos de triunfo comemorativos, como o de Tito (fig.2), filho do imperador Vespasiano, ele próprio posterior governante do Império, destinado a fixar para a posteridade a sua vitória sobre os Hebreus no ano 70.


Este tipo de monumentos comemorativos não ficou limitado à época romana, mas foi utilizado durante a época contemporânea, ao serviço de governantes como Napoleão Bonaparte, promotor dos arcos de triunfo parisienses “du Carrocel” e de “l´´Étoile”, comemorando as suas vitórias, embora também o bélico rei da Prússia Frederico Guilherme II tenha feito erigir, em Berlim, a famosa Porta de Brandenburgo, entre 1788 e 91, como símbolo da paz!
Também a Igreja católica se apropriou da Arte como meio de propaganda religiosa, quer edificando igrejas cada vez mais esmagadoras em termos de grandiosidade e beleza, de que a Basílica de S. Pedro em Roma e a grande praça que a envolve (fig. 3) são o exemplo cimeiro, quer difundindo imagens dos mártires e santos do catolicismo, em atitudes patéticas, quer incluindo chocantes cenas de martírio, imagens essas que passam a ser “regulamentadas” pelas decisões do Concílio de Trento no ano de 1563 sobre o culto dos santos, as quais são impostas a todos os artistas de imagens sacras.


No entanto, a componente religiosa da propaganda é indissociável da componente política, já que o poderoso clero católico intervinha nas decisões dos monarcas através do conselho e influência dos seus padres confessores, possuindo ainda a tenebrosa arma repressiva do tribunal da Inquisição que nem os governantes poupava, contribuindo para a manutenção do atraso económico e social dos estados de obediência à Santa Sé, de que Portugal é um dos exemplos máximos.



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