CASTELOS
TEMPLÁRIOS DO
CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA
Carlos Rodarte Veloso
“Correio Transmontano”, 20 de Novembro de 2017
As Cruzadas,
grandes movimentações militares de cristãos na direcção do Próximo Oriente a
fim de conquistar os territórios da Terra Santa ocupados pelos Muçulmanos,
tinham como principal alvo Jerusalém e as restantes povoações da Palestina
presentes na narrativa bíblica da vida e actos de Cristo e seus apóstolos.
A conquista
de Jerusalém em 1099 e a consequente criação do Reino Latino de Jerusalém, do
Condado de Trípoli e da anexação senhorial de outros territórios da região,
levaram à necessidade de dotar os novos senhores cristãos, os seus súbditos na
fé e os peregrinos, com diversos corpos de protecção militares com forte vocação
religiosa, milícias que ficaram conhecidas como Ordens Religioso-Militares, misto
de monges e guerreiros, de que sobressaiem Ordens como as do Templo ou Cavaleiros
Templários, dos Hospitalários ou Cavaleiros de Malta, de Santiago , de
Calatrava e outras.
A necessidade
de promover a construção de castelos para a defesa dos peregrinos e a
resistência a qualquer tentativa bélica dos anteriores ocupantes do território,
levou à reutilização das fortalezas islâmicas, mas também à sua reconstrução e
aperfeiçoamento.
Embora a mais
carismática dessas fortalezas tenha sido o Crac dos Cavaleiros
da Ordem dos Hospitalários, na Síria, os quais
beneficiaram da experiência obtida na construção de fortalezas na Terra
Santa, foi o modelo das fortalezas templárias,
importado pelos mesmos cavaleiros, de regresso a Portugal, que maiores
novidades trouxe às edificações elevadas no nosso país no período
correspondente à Reconquista cristã e à sua consolidação, sendo o castelo
românico (séc. XII-XIII) concebido apenas para uma defesa passiva e, assim, capaz
de resistir a longos cercos.
Para o fazer “confiava na espessura e na altura dos seus muros, que
acreditava serem instransponíveis. O armazenamento de água era também
fundamental para conseguir resistir, daí a presença de cisternas no interior
dos castelos” (Gouveia Monteiro e Leonor Pontes, pp.9-10)
A configuração do castelo consta inicialmente de um pátio muralhado com
duas portas de acesso (a Principal e a da Traição), e o caminho da ronda, ou
adarve, construído ao longo do alto da muralhas e protegido por um parapeito
contínuo ou coroado de merlões separados por ameias e sobrepostos a orifícios
de tiro, as seteiras.
São também, muito provavelmente, as primeiras construção dotadas de alambor,
que consistia num escarpamento da base da muralha em aparelho de alvenaria,
destinada a reforçar a estabilidade e resistência dos muros contra os engenhos
de cerco e a dificultar a sua minagem. O modelo acabado destas inovações é o
Castelo de Tomar, sede da Ordem do Templo, o mais poderoso dos castelos templários.
Esta estrutura foi depois utilizada noutras fortalezas templárias, por vezes
substituída – quando a topografia do terreno o permitia – pelo assentamento
directo das muralhas na rocha viva.
A extinção da Ordem do Templo em 1319 coincide com a emergência da Ordem
de Cristo e leva à reconstrução de numerosos castelos templários já com a
adição ou modificação das suas características bélicas.
Correspondendo ao longo reinado de D. Dinis, impõem-se novas competências
relativamente aos castelos, já considerados góticos, como tal juntando às
funções defensivas uma atitude de “defesa activa”.
O actual concelho de Idanha-a-Nova, o quarto do país em área, é aquele em
que é maior a concentração de fortalezas dos Templários, os quais tiveram um
papel crucial na defesa do recém-conquistado território e no seu repovoamento.
Separados de Leão e Castela pelo rio Erges, afluente do Tejo, constituíram, a
partir do Tratado de Alcanizes de 1297, que fixou as nossas fronteiras medievais,
a principal linha de defesa do Reino em relação aos nossos poderosos vizinhos,
linha essa coadjuvada pelos restantes castelos da raia, que se estendia até Trás-os-Montes
e o Minho.
Outra linha de fortalezas fundamental, da Beira-Baixa até Lisboa, defendia
a linha do Tejo das tentativas islâmicas de recuperar o perdido território
durante a Reconquista.
Os oito castelos templários identificados no concelho de Idanha-a-Nova
são os de Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha – antiga Igitânia, de origem romana –
o primeiro hoje reduzido a um monte de escombros, hoje transformado em mirante,
e o segundo reduzido à torre de menagem construída sobre uma edificação romana
(fig.1).
Idanha-a-Velha - Torre de menagem |
Das outras fortalezas ainda minimamente reconhecíveis, restam a de Monsanto
(fig.2), Penha Garcia e Salvaterra do Extremo e a torre de menagem do castelo
de Segura, transformada em torre do
relógio da igreja, estando os de Proença-a-Velha e Rosmaninhal praticamente
reduzidos às ruínas de alguns muros dificilmente reconhecíveis como muralhas.
Monsanto - Castelo |
O “Livro das Fortalezas” de Duarte d’Armas (1509-10), com os desenhos de
56 castelos fronteiriços (fig.3), encomendado por D. Manuel I, permite-nos
reconstituir essas outrora poderosas fortificações que permitiram a Portugal
afirmar-se como Estado e manter a sua independência perante todas as ameaças.
O estado calamitoso de muitas dessas sentinelas pétreas é motivo para
mobilizar todos os nossos esforços para recuperar esse património quase
esquecido.
Segura - Desenho de Duiarte d'Armas |
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