quinta-feira, 23 de novembro de 2017


CASTELOS TEMPLÁRIOS DO

CONCELHO DE IDANHA-A-NOVA

Carlos Rodarte Veloso
“Correio Transmontano”, 20 de Novembro de 2017

As Cruzadas, grandes movimentações militares de cristãos na direcção do Próximo Oriente a fim de conquistar os territórios da Terra Santa ocupados pelos Muçulmanos, tinham como principal alvo Jerusalém e as restantes povoações da Palestina presentes na narrativa bíblica da vida e actos de Cristo e seus apóstolos.
A conquista de Jerusalém em 1099 e a consequente criação do Reino Latino de Jerusalém, do Condado de Trípoli e da anexação senhorial de outros territórios da região, levaram à necessidade de dotar os novos senhores cristãos, os seus súbditos na fé e os peregrinos, com diversos corpos de protecção militares com forte vocação religiosa, milícias que ficaram conhecidas como Ordens Religioso-Militares, misto de monges e guerreiros, de que sobressaiem Ordens como as do Templo ou Cavaleiros Templários, dos Hospitalários ou Cavaleiros de Malta, de Santiago , de Calatrava e outras.
A necessidade de promover a construção de castelos para a defesa dos peregrinos e a resistência a qualquer tentativa bélica dos anteriores ocupantes do território, levou à reutilização das fortalezas islâmicas, mas também à sua reconstrução e aperfeiçoamento.
Embora a mais carismática dessas fortalezas tenha sido o Crac dos Cavaleiros da Ordem dos Hospitalários, na Síria, os quais  beneficiaram da experiência obtida na construção de fortalezas na Terra Santa, foi o modelo das fortalezas templárias, importado pelos mesmos cavaleiros, de regresso a Portugal, que maiores novidades trouxe às edificações elevadas no nosso país no período correspondente à Reconquista cristã e à sua consolidação, sendo o castelo românico (séc. XII-XIII) concebido apenas para uma defesa passiva e, assim, capaz de resistir a longos cercos.
Para o fazer “confiava na espessura e na altura dos seus muros, que acreditava serem instransponíveis. O armazenamento de água era também fundamental para conseguir resistir, daí a presença de cisternas no interior dos castelos” (Gouveia Monteiro e Leonor Pontes, pp.9-10)
A configuração do castelo consta inicialmente de um pátio muralhado com duas portas de acesso (a Principal e a da Traição), e o caminho da ronda, ou adarve, construído ao longo do alto da muralhas e protegido por um parapeito contínuo ou coroado de merlões separados por ameias e sobrepostos a orifícios de tiro, as seteiras.
São também, muito provavelmente, as primeiras construção dotadas de alambor, que consistia num escarpamento da base da muralha em aparelho de alvenaria, destinada a reforçar a estabilidade e resistência dos muros contra os engenhos de cerco e a dificultar a sua minagem. O modelo acabado destas inovações é o Castelo de Tomar, sede da Ordem do Templo, o mais poderoso dos castelos templários. Esta estrutura foi depois utilizada noutras fortalezas templárias, por vezes substituída – quando a topografia do terreno o permitia – pelo assentamento directo das muralhas na rocha viva.
A extinção da Ordem do Templo em 1319 coincide com a emergência da Ordem de Cristo e leva à reconstrução de numerosos castelos templários já com a adição ou modificação das suas características bélicas.
Correspondendo ao longo reinado de D. Dinis, impõem-se novas competências relativamente aos castelos, já considerados góticos, como tal juntando às funções defensivas uma atitude de “defesa activa”.
O actual concelho de Idanha-a-Nova, o quarto do país em área, é aquele em que é maior a concentração de fortalezas dos Templários, os quais tiveram um papel crucial na defesa do recém-conquistado território e no seu repovoamento. Separados de Leão e Castela pelo rio Erges, afluente do Tejo, constituíram, a partir do Tratado de Alcanizes de 1297, que fixou as nossas fronteiras medievais, a principal linha de defesa do Reino em relação aos nossos poderosos vizinhos, linha essa coadjuvada pelos restantes castelos da raia, que se estendia até Trás-os-Montes e o Minho.
Outra linha de fortalezas fundamental, da Beira-Baixa até Lisboa, defendia a linha do Tejo das tentativas islâmicas de recuperar o perdido território durante a Reconquista.
Os oito castelos templários identificados no concelho de Idanha-a-Nova são os de Idanha-a-Nova e Idanha-a-Velha – antiga Igitânia, de origem romana – o primeiro hoje reduzido a um monte de escombros, hoje transformado em mirante, e o segundo reduzido à torre de menagem construída sobre uma edificação romana (fig.1). 

Idanha-a-Velha - Torre de menagem

Das outras fortalezas ainda minimamente reconhecíveis, restam a de Monsanto (fig.2), Penha Garcia e Salvaterra do Extremo e a torre de menagem do castelo de  Segura, transformada em torre do relógio da igreja, estando os de Proença-a-Velha e Rosmaninhal praticamente reduzidos às ruínas de alguns muros dificilmente reconhecíveis como muralhas.

Monsanto - Castelo

O “Livro das Fortalezas” de Duarte d’Armas (1509-10), com os desenhos de 56 castelos fronteiriços (fig.3), encomendado por D. Manuel I, permite-nos reconstituir essas outrora poderosas fortificações que permitiram a Portugal afirmar-se como Estado e manter a sua independência perante todas as ameaças.
O estado calamitoso de muitas dessas sentinelas pétreas é motivo para mobilizar todos os nossos esforços para recuperar esse património quase esquecido.

Segura - Desenho de Duiarte d'Armas

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