EDIFÍCIOS CIVIS DE TOMAR DA ÉPOCA DA
EXPANSÃO
ALGUMAS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
Carlos Rodarte Veloso
(“O
Templário”, 31 de Maio de 2018)
Conclusão de
“Urbanismo e Arquitectura Civil de Tomar na Época da Expansão”
Outras
construções da época que acabamos de examinar poderiam ser “adivinhadas”, pois
são muitos os vestígios arquitectónicos armazenados no Claustro da Lavagem do
Convento de Cristo (ver imagens), identificados estilisticamente com o período
da Expansão mas muitos deles carentes de qualquer identificação com os
edifícios concretos a que pertenceram ou, no caso de testemunhos lapidares
epigráficos ou iconográficos, da indicação do seu local original.
Do
mesmo modo, são frequentemente achados, em obras efectuadas em casas do Centro
Histórico, não apenas no sítio de obras atrás referidas e hoje desaparecidas,
elementos arquitectónicos de certa dimensão ou qualidade artística, que fazem
pensar num ambiente de alguma distinção. É muito possível que venha a ser
achada documentação que supra as evidentes lacunas existentes, pelo menos
relativamente às casas de maior importância, decerto averbadas em textos coevos
relativos a obras, heranças, doações…
Dificuldade
acrescida para o estudo dos edifícios civis é o grande número de intervenções
por eles sofridas ao longo dos séculos ou a sua substituição pura e simples por
outros imóveis, eles por sua vez substituídos, quase sempre com notória perda
de qualidade, por novos edifícios cada vez mais incaracterísticos, cada vez
mais pobres, apesar dos sonhos megalómanos dos seus proprietários…
No
entanto, em certos casos, mesmo verificando-se essa perda de qualidade, há que
defender da destruição o “novo” edifício, desde que detentor de uma história e
de uma estética reconhecidas como Património, sob pena de toda esta degradação
só terminar… no zero absoluto!
Factor
muito positivo é o crescente número de investigadores do passado de Tomar, que
têm desde sempre manifestado o maior interesse pela criação dum Museu da Cidade, onde todo o material
acumulado no Claustro da Lavagem venha a ser devidamente organizado e exposto
de forma condigna.
Há,
assim, razões para um certo optimismo, sendo um passo importante a dar, a qualificação do Centro Histórico de Tomar
como Património da Humanidade, projecto esse que conta com um razoável
número de vontades, embora esta problemática tenha oscilações na adesão por
parte dos agentes culturais.
Ao
articular com este projecto o da dinamização do Turismo Cultural, — actividade
que se pode revelar muito compensadora em termos económicos, tanto directa como
indirectamente —, e o da Conservação e Restauro, será possível suprir
largamente os gastos com a necessária intervenção a todos os níveis.
É
assim fundamental o trabalho de investigação na área histórico-cultural, o qual
deve frutificar em obras de divulgação para todos os níveis de interesse e de
conhecimentos, desde o científico ao mais generalista, desde o ensaio ao
simples folheto turístico.
O
espólio arquitectónico e escultórico sobrevivente em Tomar, mesmo desligado da
obra global de que fazia parte, bem como o testemunho deixada por diversos
investigadores sobre os mesmos edifícios desaparecidos, bem poderão integra-se
no conceito de”Cripro-História da Arte” criado por Vítor Serrão (A Cripto História da Arte. Análise de Obras
de Arte Inexistentes, Livros Horizonte, Lisboa, 2001), nomeadamente no que
se refere à “vertente da reconstituição, ou seja, a análise do fragmento de um
conjunto artístico nos nossos dias parcialmente inexistente, a fim de desvendar
a sua possível estrutura inicial”.
Não
sendo o remédio milagroso para a salvaguarda da identidade nacional num mundo
cada vez mais globalizado e normalizado, não me restam dúvidas de que os passos
apontados poderão constituir importante contributo para uma acção pedagógica
centrada no Património.
NOTA:
Este texto e respectivo título estão modificados em relação à publicação n’ O Templário, e a Bibliografia não consta
da mesma, devido à sua extensão.
FOTOS: C.Veloso
BIBLIOGRAFIA
ALARCÃO,
Jorge de — Introdução ao estudo da
História e Património Locais , Universidade de Coimbra, 1982.
— O domínio romano em Portugal, Publicações
Europa-América, Lisboa, 1988.
ALVIM, João — “As Casas
Nobres da Rua do Pé da Costa, Anais da União dos Amigos dos Monumentos da
Ordem de Cristo, Vol. III, Junho de 1952, pp. 23-30 e Dezembro de 1952, pp.
39-43.
Anais da
União dos Monumentos da Ordem de Cristo [referindo elementos arquitectónicos
dispersos recolhidos pela União ou
por ela dispensados para reutilização]: de Setembro de 1918 a 1968.
AZEVEDO,
Carlos de — Solares Portugueses (introdução ao estudo da casa nobre), Livros
Horizonte, 1969.
BARREIRA,
João — “A Habitação em Portugal”, Notas
sobre Portugal, Vol.II, Lisboa, 1908, pp. 146-178.
BATATA,
Carlos – As Origens de Tomar. Carta
Arqueológica do Concelho, Tomar, 1997.
BINNEY,
Marcus — Casas Nobres de Portugal,
com “Introdução” de Manuel Pedro Rio-Carvalho, Difel, Lisboa, 1987.
CHUECA
GOITIA, Fernando — Breve História do
Urbanismo, Editorial Presença, Lisboa, 1982.
FERREIRA, Maria João; DUARTE, Teresa — “O urbanismo
medieval da cidade de Tomar”, Boletim
Cultural da Câmara Municipal de Tomar, Março de 1992, pp. 123-149.
FIGUEIREDO E SILVA, Eugénio Sobreiro de — “Os Cubos”, União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de
Cristo, Vol.II, Dezembro, 1947, pp. 135-145.
— “Demolição de casa quinhentista de Tomar”, União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de
Cristo, Vol.III, Junho de 1956, pp. 154-157.
— “Os Estaus”, União
dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, Vol.IV, Junho de 1961, pp.
45-46 e 49-54.
GARCIA Y BELLIDO, Antonio — Problemas sociales del urbanismo en el area mediterranea durante la
Edad Antigua , Editora Nauka, Moscú, 1966.
— Urbanistica de
las grandes ciudades del Mundo Antiguo, Madrid, 1966.
GODINHO, António Carlos — “Janelas e Portais”, Cidade de Tomar, 16 de Março de
1990, p. 9.
— “Janelas e Portais de Tomar”, Estórias e História de Tomar, Tomar, Maio de 1990, pp. 27-33.
GRIMAL, Pierre — Les villes romaines,
PUF, Paris, 1977.
GUIMARÃES, Vieira — Thomar-Santa
Iria, Lisboa, 1927, pp. 266-273, 274 e 276.
HAUPT, Albrecht — A
Arquitectura do Renascimento em Portugal,
Presença, Lisboa, 1986, pp. 194 e 197-198 (gravuras).
HOMO, Léon — Rome
impériale et l'urbanisme dans l'Antiquité, Ed.Albin Michel, Paris, 1971.
MARKL,
Dagoberto — História da Arte em Portugal.
VI - O Renascimento, Alfa, Lisboa, 1986, pp. 52-58.
MELA, Romualdo — “Ruas de Tomar e a sua Toponímia”, Boletim Cultural e Informativo da Câmara
Municipal de Tomar: — Vol. 1, 1 de Março de 1981, pp. 69, 71, 80.— Vol. 3,
1 de Março de 1982, p. 96.— Vol. 4, 20 de Outubro de 1982, pp. 144 e 147-149.—
Vol. 5, 1 de Março de 1983, pp. 59, 60 e 64-65.— Vols. 8-9, 1 de Março de 1985,
pp. 46-47.— Vol. 10, 1 de Março de 1988, p. 41.
MESQUITA, José Carlos Vilhena — A viagem uma outra forma de turismo na
perspectiva do conhecimento histórico, Universidade do Algarve, Faro, 1986.
MONTALVÃO,
António — "Permanece a urbanística de Aquae Flaviae?", Conimbriga, Coimbra, 1972, Vol.XI,
pp.35-39 e mapa 40-41.
PONTE, Salete
da — Inserção do Forum de Sellium no
tecido urbano de Tomar, Tomar, s/d
— Sellium, Tomar Romana , Centro de
Estudos de Arte e Arqueologia da Escola Superior de Tecnologia, Tomar, 1989.
— “O Rio, as Rodas e os Açudes”, Estórias e História de Tomar,
Secretariado do VIII Encontro de Professores de História da Zona Centro, Tomar,
Maio de 1990, pp.21-26.
— "Tomar e o seu Território -
Problemática e Perspectivas Futuras", Actas do Seminário O Espaço Rural na Lusitânia. Tomar e o seu
Território, 17-19 de Março de 1989, Tomar, 1992, pp. 25-29.
— Interfaces
Culturais em Tomar Cidade, Tomar, 29 de Abril de 2012
PONTE, Salete da; FERNANDES, Luís
— ”Sellium Romana: sua História”, Boletim
Cultural da Câmara Municipal de Tomar, Nº 19, Outubro, 1993, pp. 163-189.
PONTE, Maria La-Salete da; SILVA, Pedro
Lourenço da — “Abordagem arqueo-histórica dos Paços do Castelo dos Templários
(sondagem 1985), Boletim Cultural e
Informativo da Câmara Municipal de Tomar, Vols. 11-12, 1 de Março de 1989,
pp. 55-76.
PONTE, Salete da; Veloso, Carlos (coordenadores) – Imagens de Tomar. Roteiro Histórico,
Secretariado do VIII Encontro de Professores de História da Zona
Centro, Tomar, Maio de 1990, pp. 25 e 53-54.
ROSA, Amorim — De Tomar, Tomar, 1960, pp. 43-44, 47.
— Anais
do Município de Tomar. 1581-1700, Tomar, 1969, p. 16; 1454-1580, Tomar, 1971, pp. 76-77, 178 e 318-320.
— História
de Tomar, Vol. 1, Tomar, (2ª edição)1988, pp. 76, 81-84, 86-87, 89, 97-98,
113, 123-131, 151-156; Vol. 2, Assembleia Distrital de Santarém, 1982, pp.
125-126.
ROSA, José Inácio da Costa — “Nascimento e
evolução urbana de Tomar até ao Infante D. Henrique”, Boletim Cultural e Informativo da Câmara Municipal de Tomar, Vol.
2, 20 de Outubro de 1981, pp. 50-51 e extra-texto 48/49.
— “Evolução da fisionomia urbana,
arquitectónica e construtiva de Tomar”, Tomar
- Perspectivas, Tomar, 1991, pp.
57-97 e 90.
ROSENEAU,
Helen — A Cidade Ideal - Evolução
arquitectónica na Europa, Editorial
Presença, Lisboa, 1988.
SEQUEIRA,
Gustavo Matos — Palácios e Solares
Portugueses, Lello & Irmão, Porto, s/d.
SERRÃO,
Vítor, A Cripto-História da Arte. Análise
de Obras de Arte Inexistentes, Livros Horizonte. Lisboa, 2001.
SILVA, José
Custódio Vieira da — “A morada privilegiada - o Paço”, O Fascínio do Fim”, Livros Horizonte, Lisboa, 1997, pp. 23-43.
SOUSA, João Maria de — Noticia descriptiva e historica da cidade de Thomar, Tomar, 1903,
pp. 62-64.
Tomar-Portugal, Câmara Municipal de Tomar,
Gabinete de Educação e Cultura, 1982.
VELOSO, Carlos — “O Turismo e o Património”,
crónica radiodifundida in Janela do
Capítulo, Rádio Cidade de Tomar, Junho de 1992.
— “Palácios do Renascimento em Tomar:
vestígios de um património perdido”, comunicação ao !V Curso de Verão de História da Arte, coordenado pelo Prof. Doutor
Pedro Dias, Universidade de Coimbra, Setembro de 1992.
— “O Turismo e o Património”, Cidade de Tomar, 13 de Novembro de 1992.
— “Cidade Romana e Urbanismo no Mundo
Antigo”, Boletim Cultural da Câmara
Municipal de Tomar, Nº 19, Outubro, 1993, pp.133-153.
— “Cultura turística ou Turismo Cultural?”, Cidade de Tomar, 19 de Março de 1998.
— “Museus Etnográficos: o Espírito do Lugar”,
Cidade de Tomar, 17 de Março de 1995.
— Santa
Iria na Arte e no Mito, Empresa Editora Cidade de Tomar, Tomar, 20 de
Outubro de 1996.
— “Velhas
Pedras de Tomar”, Tomar à Letra (Agenda
Cultural), Tomar ( 9 artigos) de Setembro de 1995 a Outubro de 1997.
— “Tomar: o Espaço e o Tempo”, Cidade de Tomar, 27 de Fevereiro de
1998.
— “Turismo cultural”, Cidade de Tomar, 5 de Junho de 1998.
— “Turismo e
património histórico-artístico”, Revista
do Centro de Estudos de Turismo e Cultura, Nº 1, Tomar, Junho de 1998.
— Urbanismo e Arquitectura Civil de Tomar na
Época da Expansão numa perspectiva turístico-cultural, trabalho apresentado
ao concurso para Professor-Coordenador do Instituto Politécnico de Tomar,
Tomar, Dezembro de 1998.
VITERBO,
Sousa — Dicionário Histórico e Documental
dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, reedição
fac-similada, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1988, Vol II, pp.
183-204.