terça-feira, 1 de maio de 2018



O PRIMEIRO 1º DE MAIO

 Carlos Rodarte Veloso

1 de Maio de 2018



Uma “tão simples reivindicação” – hoje considerada perfeitamente normal - como o foi a exigência da jornada de trabalho de 8 horas, incendiou aquele dia 1º de Maio de 1886, em Chicago, durante a greve geral convocada pela 4ª Conferência da Federação dos Trabalhadores dos Estados Unidos da América e do Canadá. Nesse dia 5.000 greves alastraram pelos dois países atingindo mais de 125.000 trabalhadores.
Mas o patronato, com a cumplicidade activa do governo, reprimiu selvaticamente as manifestações, recorrendo, ora à polícia, ora a agentes provocadores fortemente armados que lançaram bombas sobre as multidões, criando o caos total. Este crime foi imputado aos principais dirigentes sindicais, logo presos, julgados e condenados à morte.
Enforcados dias depois, foram mais tarde reconhecidos como inocentes e glorificados como os “Mártires de Chicago”. Foi a sua acção intrépida que deu origem à comemoração anual do Dia  Internaconal do Trabalhador, desde então sempre celebrado nesta data.
Mas não em todos os países: apenas naqueles que aderiram às reivindicações então defendidas pelos trabalhadores, os países democráticos de todo o mundo, e naqueles que ideologicamente se declaravam estados operários, concretamente as repúblicas populares do Leste da Europa e da Ásia, e Cuba.
Só em 1890, as Associações Operárias portuguesas aderiram às comemorações do 1º de Maio, sendo depois proibidas pela ditadura do Estado Novo, simpatizante dos regimes fascistas e nazi e, como tal, proibindo o movimento sindical independente e impondo o corporativismo das classes sociais e a sua aliança contra natura
Na sequência do 25 de Abril de 1974, no 1º de Maio, este foi finalmente celebrado em Portugal, representando a maior concentração de massas humanas da nossa História, em todas as grandes cidades. Só em Lisboa contou com a  participação de cerca de 1 milhão de manifestantes, do que dão testemunho as fotografias e filmes então obtidos. Foi o momento máximo de unidade nacional em torno dos direitos dos trabalhadores, mas também dos direitos humanos. Esse ideal enfraqueceu com o inevitável desgaste de um tempo difícil em que as divisões entre os trabalhadores acabaram por se sobrepor à unidade desse momento único.
Mas o ideal de unidade não foi esquecido: aqui e ali, hoje mesmo no nosso País, as divisões são superadas pelo desejo do bem comum, e os rivais aliam-se como em 1886, para enfrentar a exploração capitalista. Com algumas ressalvas, é bem verdade, mas quem disse que o mundo é perfeito?
IMAGENS: “O Quarto Estado”, pintura de Volpedo, 1901 e “O 1º de Maio de 1974 em Lisboa”



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