segunda-feira, 30 de abril de 2018



UMA LUA CICLOTÍMICA 
OU
AS ENGANADORAS FASES DA LUA

Carlos Rodarte Veloso
"Correio Transmontano", 29 de Abril de 2018


Aprendemos, ainda na Escola Primária – na minha geração aprendia-se... – que “a Lua é mentirosa”, isto baseado no facto de no Quarto Crescente aparentar a forma de um D, e no Quarto Minguante, de um C. Entendendo-se o D como “decrescente” e o C como Crescente, tínhamos aqui a mnemónica segura para não mais esquecer, a da “Lua mentirosa”.
E não esqueci, ao longo de toda a metade do século XX em que existi... até que, muito perto do seu final, exactamente a 3 de Dezembro de 2000, uma viagem ao Estado de Rio Grande do Sul, no Brasil, fez vacilar as minhas certezas sobre o aparente equilíbrio do Universo que a tal mnemónica garantia.
Quando parti de Lisboa, olhei o céu nocturno e vi o nosso fiel satélite num magnífico Quarto Crescente, o pretenso D da minha astronomia de trazer por casa. E era mesmo de trazer por casa pois, quando cheguei a Porto Alegre, aquela Lua brasileira, passadas as cerca de 14 horas dos dois voos que lá me puseram, ria-se de mim, transmutada num C, desta vez verdadeira relativamente à face que apresentava, um Quarto Crescente “verdadeiro”!
À minha pergunta, a alguns compatriotas que me tinham acompanhado e a brasileiros que nos receberam, uns e outros com diplomas de cursos superiores em diversas áreas, não souberam responder à minha dúvida, talvez até suspeitosos da veracidade da minha observação. “O homem é um despistado, agora deu em observador de fenómenos cósmicos?”, lia eu nas entrelinhas...
Regressado a este jardim à beira-mar plantado, tentei averiguar se os sentidos me haviam enganado, inquirindo outras pessoas, mas fiquei na mesma, acabando por arquivar o assunto no meu disco rígido, mas sem mais o esquecer.
Só passados 4 anos sobre essa viagem ao “País Irmão”, me surgiu a brilhante ideia de consultar o Google, tira-teimas cada vez mais usado noutros sectores que não intervinham nas coisas planetárias.
E não é que em “Fases da Lua”, num site brasileiro precisamente de Porto Alegre (http://astro.if.ufrgs.br/lua/lua.htm), veja-se a coincidência, vou encontrar a explicação para esta diferença na abóbada celeste, observada em diferentes países? A passagem do Equador representa uma autêntica cambalhota e, tal como as constelações mudam, os astros e, neste caso a Lua, observada nas hemisférios norte e sul, corresponde em termos das fases intermédias, a passagem de um “D” para um “C”.
No entanto, tudo era uma questão de raciocinar um pouco: quando na história da Expansão as nossa naus atravessaram o Equador, os seus tripulantes deixaram gradualmente de ver as nossas velhas constelações e encontraram-se perante um céu desconhecido, onde avultava, em vez da Estrela Polar da Ursa Menor, que indicava o Norte, a constelação do Cruzeiro do Sul, que passou a orientar os navegadores para o Sul. No entanto os planetas conhecidos mantiveram-se presentes, só que observados de um ponto de vista invertido, o que é mais evidente em relação à Lua, pela sua dimensão devido à sua proximidade...
Deixo aqui este muito simples apontamento, porque penso que se trata de um fenómeno pouco conhecido da maioria dos não-astrónomos.

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