sexta-feira, 13 de abril de 2018



EDIFÍCIOS CIVIS RENASCENTISTAS DE TOMAR

1. DO PALÁCIO DO DUQUE DE AVEIRO AO EDIFÍCIO DO TURISMO
Carlos Rodarte Veloso
O Templário”, 12 de Abril de 2018


"Continuação de “Urbanismo e Arquitectura Civil de Tomar na Época da Expansão”



 Apesar das depredações que tem sofrido, o património tomarense conserva um número razoável de edifícios civis renascentistas, mesmo modificados, mesmo degradados… O seu número deve corresponder, afinal, à influência positiva exercida pela obra de mestres conquistados pelo gosto renascentista como é o caso de João de Castilho, João de Ruão, Jorge Afonso, Gregório Lopes, Diogo de Torralva e tantos outros que trabalharam em ou para Tomar, sendo frequentadores da Corte e verdadeiros representantes da vanguarda artística portuguesa. 
 Escola estética mas também necessidade de exibir a fortuna de forma mais elegante, ao gosto de uma Corte requintada e culta, e ainda o desejo, bem renascentista, de afirmação pessoal e a sua mais directa consequência, o individualismo, vão contribuir para uma nova atitude das classes dirigentes perante a vida e o mundo.
 Mais uma vez, vai ser através das suas aberturas, as janelas, que as novas casas nobres vão revelar o gosto dos seus proprietários; com balaústres ou mainéis, de esquina ou com aventais de cantaria esculpida com motivos geométricos, medalhões, delicados relevos, dão uma nota de elegância e requinte e vão prolongar-se no tempo, até ao pleno século XVII, parecendo acompanhar a arquitectura religiosa numa aparente resistência ao Barroco que o Maneirismo português apresenta e a cuja sobriedade e, mesmo, austeridade quase militar, Kubler chamou “estilo chão”. 
 As portas acompanham a tendência das janelas sendo, no entanto, mais raras as que apresentam decoração delicada. De facto, a sua funcionalidade e a maior exposição relativamente ao tráfego urbano e a agentes de desgaste diversos, leva a uma menor duração e isso explica o facto de grande parte das cantarias das portas de edifícios de qualidade terem sido substituídas ou reparadas, raramente correspondendo na totalidade ao original.
 Reiniciemos então esta caminhada pela Vila do século XVI, reencontrando os traços de um passado prestigioso…


 No local onde fora construído, em 1560, o palácio do duque de Aveiro D. Luís de Lencastre, nesse ano exilado em Tomar devido ao seu romance com uma dama de igualmente poderosa estirpe, foram erigidas, sucessivamente, três salas de espectáculo: o Teatro Nabantino construído entre meados do século passado e 1919, o Teatro Paraíso de Tomar da traça do Arquitecto Deolindo Vieira, em 1948 transformado no actual edifício, o Cine-Teatro, segundo risco do Arquitecto Corrody. Do palácio renascentista original restam-nos, identificadas, algumas “pedras” recolhidas pela União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo e reaproveitadas para a Casa do Turismo. 
Este edifício (Fig.1), sede da “Comissão de Iniciatva e Turismo”, foi construído em 1933 com projecto e autoria do Arquitecto José Vilaça, enquadrando-se claramente no revivalismo historicista de gosto Neo-Renascença. No entanto, enquadra numerosos elementos escultóricos, arquitectónicos e azulejares dos séculos XV e XVI, provenientes de diversos edifícios antigos de Tomar e arredores, demolidos nas primeiras décadas do século XX.


A nível arquitectónico, saliento uma janela geminada decorada com um belo medalhão renascentista (Fig.2) — logo acompanhada por uma réplica moderna — instalada no 1º andar da fachada, e um portal renascentista também geminado, (Fig.3), instalada no átrio do piso térreo da mesma casa, sendo ambos os originais provenientes do demolido e já referido palácio dos duques de Aveiro.


Além destes elementos, há a considerar outros, a que oportunamente me referirei: a janela de canto trazida da casa do D. Prior, uma janela de balaústres, também renascentista, que pertencera a uma casa nobre da Rua da Palmeira; uma pedra de cunhal representando um anjo, da mesma proveniência; três gárgulas; um fecho de abóbada representando uma cabeça masculina; um portal proveniente do Paço dos Cubos, também do Palácio Lencastre. Estes elementos encontravam-se na posse da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo. Outras cópias de elementos da época completam o conjunto.



Fotos de C. Veloso

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