25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen,
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen,
“O Nome das Coisas”, 1977
Também eu esperei
ansiosamente esse dia luminoso, não desde que nasci, evidentemente, mas desde o
dia de 1965 em que participai numa greve escolar e aprendi à minha custa o
preço da coerência e da coragem.
Por isso me fui então
distanciando do rebanho, atento, venerador e obrigado, mas também ingénuo, de
que fazia parte a maioria dos meus colegas.
Olho agora para trás, 44
anos após o maravilhoso Dia da Liberdade e 53 depois da minha libertação
pessoal, e revejo-me cada vez mais empenhado na luta contra o Estado
pseudo-Novo, na luta estudantil e, uma vez na tropa, nos movimentos que
conduziram à formação do Movimento das Forças Armadas, ao frustrado 16 de Março
das Caldas da Rainha e ao glorioso 25 de Abril.
À inevitável pergunta,
“Valeu a pena?”, respondo sem hesitar: “Apesar dos erros cometidos, das
escolhas nem sempre correctas e dos recuos que o ideal de Abril sofreu e sofre,
valeu a pena, sim! No meio das névoas que por vezes ensombraram este País e este
Povo durante os 44 anos que agora celebramos, mesmo face aos odiosos ataques
dos saudosos desses ‘bons velhos tempos’ em que imperavam a desigualdade e a
injustiça, assistimos ao recrudescimento do espírito que lançou para as ruas os
militares e as multidões que enterraram o fascismo. Que a terra lhe seja bem
pesada!
Carlos
Rodarte Veloso
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