quarta-feira, 25 de abril de 2018




25 de Abril
                         Esta é a madrugada que eu esperava
                         O dia inicial inteiro e limpo
                         Onde emergimos da noite e do silêncio
                         E livres habitamos a substância do tempo

                         Sophia de Mello Breyner Andresen,
                         “O Nome das Coisas”, 1977

Também eu esperei ansiosamente esse dia luminoso, não desde que nasci, evidentemente, mas desde o dia de 1965 em que participai numa greve escolar e aprendi à minha custa o preço da coerência e da coragem.
Por isso me fui então distanciando do rebanho, atento, venerador e obrigado, mas também ingénuo, de que fazia parte a maioria dos meus colegas.
Olho agora para trás, 44 anos após o maravilhoso Dia da Liberdade e 53 depois da minha libertação pessoal, e revejo-me cada vez mais empenhado na luta contra o Estado pseudo-Novo, na luta estudantil e, uma vez na tropa, nos movimentos que conduziram à formação do Movimento das Forças Armadas, ao frustrado 16 de Março das Caldas da Rainha e ao glorioso 25 de Abril.
À inevitável pergunta, “Valeu a pena?”, respondo sem hesitar: “Apesar dos erros cometidos, das escolhas nem sempre correctas e dos recuos que o ideal de Abril sofreu e sofre, valeu a pena, sim! No meio das névoas que por vezes ensombraram este País e este Povo durante os 44 anos que agora celebramos, mesmo face aos odiosos ataques dos saudosos desses ‘bons velhos tempos’ em que imperavam a desigualdade e a injustiça, assistimos ao recrudescimento do espírito que lançou para as ruas os militares e as multidões que enterraram o fascismo. Que a terra lhe seja bem pesada!

Carlos Rodarte Veloso


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