sexta-feira, 18 de maio de 2018



EDIFÍCIOS CIVIS RENASCENTISTAS DE TOMAR

6. O PALÁCIO DO D. PRIOR

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 17 de Maio de 2018

"Continuação  de “Urbanismo e Arquitectura Civil de Tomar na Época da Expansão”

               Outra notável casa quinhentista de Tomar, indissociável da existência do seu Convento, era o Palácio do D. Prior, complexo habitacional limitado pelas ruas da Corredoura, dos Moinhos e de S. João. Vejamos o testemunho de Vieira Guimarães sobre esta quase totalmente perdida edificação, que apresentava “entrada condigna, de largo vestíbulo, com bancos de pedra, onde se veem os encaixes de almofadas que quase sempre era de uso serem pranchas de cortiça, escada também de pedra, dando serventia, à direita para a espaçosa cozinha, e à esquerda para os amplos salões que, por largas janelas de sacada, deitavam para aquela Rua [Corredoura], jardim ladeado por varandas, uma das quais conduzia à capela, perto da qual se abria uma elegante janela de esquina que é, no género, uma verdadeira obra-prima […]”.


               Foi precisamente esta belíssima janela de canto que a União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo recolheu da demolição da parte da casa situada na esquina entre as Ruas de S. João e dos Moinhos, e foi depois utilizada no 2º piso da Casa do Turismo, onde ainda se encontra (Fig.1). Apresenta ela o balcão decorado com elementos geométricos em duplo “x” vasado, e frontão triangular, dobrado segundo o ângulo da esquina, apoiado sobre mainel jónico canelado, de um belo classicismo. A casa, tal como era, ou quase, pôde ainda ser admirada, cerca de 1927, por Vieira Guimarães, sendo referida, no mesmo ano, no volume referente ao distrito de Santarém do Inventário Artístico de Portugal, por Matos Sequeira. Essa circunstância permite datar de entre cerca de 1927 e 1933, data da conclusão das obras do edifício do Turismo, a demolição de parte do palácio, bem como a “migração” da referida janela, já que a pedra de armas que encimava o portão da entrada, desde data anterior se encontrava recolhida no Museu da U.A.M.O.C. O que resta deste palácio é praticamente irreconhecível.
               Na Casa do Turismo, situada em frente do já referido Hospital de S. Brás, para além dos seus elementos neo-renascentistas construídos “de novo”, segundo projecto de José Vilaça, enquadrados no gosto revivalista e historicista que o “Estado Novo”, numa agonia interminável, prolongaria até aos Anos Cinquenta do século XX, estão integrados, como já referi, elementos arquitectónicos, escultóricos  e decorativos diversos, dos séculos XV e XVI, provenientes de diversos edifícios antigos de Tomar e arredores, demolidos nas primeiras décadas do século XX. Estes são, para além dos elementos do “Paço dos Cubos”, do Palácio Lencastre e do dos Raimundos de Noronha, atrás referidos, e da agora indicada Janela do D. Prior, três gárgulas e um fecho de abóbada representando uma cabeça masculina. Estes elementos encontravam-se na posse da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, que os cedeu para o mesmo edifício.

               Muito próximo do Palácio do D. Prior, também com três fachadas, a principal dando para a Rua de S. João, as outras duas para a Corredoura e a Levada, existia o hoje desaparecido Palácio dos Condes de Linhares, imponente edifício da primeira metade do século XVI, originariamente propriedade de D. António de Noronha, Conde de Linhares, último Comendador do Prado e antigo Governador de Ceuta.
               Desconhecemos se alguma das duas janelas do século XVI referenciadas na Levada e atrás referidas têm alguma relação com este palácio.

FOTO: C.Veloso

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