EDIFÍCIOS CIVIS RENASCENTISTAS DE TOMAR
6. O PALÁCIO DO D. PRIOR
Carlos Rodarte Veloso
“O
Templário”, 17 de Maio de 2018
"Continuação de “Urbanismo e Arquitectura Civil de Tomar
na Época da Expansão”
Outra
notável casa quinhentista de Tomar, indissociável da existência do seu
Convento, era o Palácio do D. Prior,
complexo habitacional limitado pelas ruas da Corredoura, dos Moinhos e de S.
João. Vejamos o testemunho de Vieira Guimarães sobre esta quase totalmente
perdida edificação, que apresentava “entrada condigna, de largo vestíbulo, com
bancos de pedra, onde se veem os encaixes de almofadas que quase sempre era de
uso serem pranchas de cortiça, escada também de pedra, dando serventia, à
direita para a espaçosa cozinha, e à esquerda para os amplos salões que, por
largas janelas de sacada, deitavam para aquela Rua [Corredoura], jardim ladeado
por varandas, uma das quais conduzia à capela, perto da qual se abria uma
elegante janela de esquina que é, no género, uma verdadeira obra-prima […]”.
Foi
precisamente esta belíssima janela de canto que a União dos Amigos dos
Monumentos da Ordem de Cristo recolheu da demolição da parte da casa situada na
esquina entre as Ruas de S. João e dos Moinhos, e foi depois utilizada no 2º
piso da Casa do Turismo, onde ainda
se encontra (Fig.1). Apresenta ela o
balcão decorado com elementos geométricos em duplo “x” vasado, e frontão
triangular, dobrado segundo o ângulo da esquina, apoiado sobre mainel jónico
canelado, de um belo classicismo. A casa, tal como era, ou quase, pôde ainda
ser admirada, cerca de 1927, por Vieira Guimarães, sendo referida, no mesmo
ano, no volume referente ao distrito de Santarém do Inventário Artístico de Portugal, por Matos Sequeira. Essa
circunstância permite datar de entre cerca de 1927 e 1933, data da conclusão
das obras do edifício do Turismo, a demolição de parte do palácio, bem como a
“migração” da referida janela, já que a pedra de armas que encimava o portão da
entrada, desde data anterior se encontrava recolhida no Museu da U.A.M.O.C. O
que resta deste palácio é praticamente irreconhecível.
Na
Casa do Turismo, situada em frente
do já referido Hospital de S. Brás, para além dos seus elementos
neo-renascentistas construídos “de novo”, segundo projecto de José Vilaça,
enquadrados no gosto revivalista e historicista que o “Estado Novo”, numa agonia
interminável, prolongaria até aos Anos Cinquenta do século XX, estão
integrados, como já referi, elementos arquitectónicos, escultóricos e decorativos diversos, dos séculos XV e XVI,
provenientes de diversos edifícios antigos de Tomar e arredores, demolidos nas
primeiras décadas do século XX. Estes são, para além dos elementos do “Paço dos
Cubos”, do Palácio Lencastre e do dos Raimundos de Noronha, atrás referidos, e
da agora indicada Janela do D. Prior, três gárgulas e um fecho de abóbada
representando uma cabeça masculina. Estes elementos encontravam-se na posse da
União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo, que os cedeu para o mesmo
edifício.
Muito
próximo do Palácio do D. Prior, também com três fachadas, a principal dando
para a Rua de S. João, as outras duas para a Corredoura e a Levada, existia o
hoje desaparecido Palácio dos Condes de
Linhares, imponente edifício da primeira metade do século XVI,
originariamente propriedade de D. António de Noronha, Conde de Linhares, último
Comendador do Prado e antigo Governador de Ceuta.
Desconhecemos
se alguma das duas janelas do século XVI referenciadas na Levada e atrás
referidas têm alguma relação com este palácio.
FOTO: C.Veloso
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