EDIFÍCIOS CIVIS RENASCENTISTAS DE TOMAR
7. NA MARGEM ESQUERDA DO NABÃO
Carlos Rodarte Veloso
“O Templário”, 24 de Maio de 2018
“Continuação de “Urbanismo e Arquitectura Civil de Tomar na Época da Expansão”
Atravessando a Ponte Velha sobre o Nabão, encontramo-nos em território de Além-da-Ponte, a que os habitantes da margem direita chamavam, noutros tempos, “Espanha”. Foi precisamente esta a zona da cidade primeiramente povoada, quando Tomar era ainda a romana Sellium…
De ambos os lados da antiga Rua Larga — hoje Rua Marquês de Pombal —, junto à Igreja do Convento de Santa Iria, alinhavam-se duas importantes construções quinhentistas: o Palácio de Frei António de Lisboa, o intransigente reformador da Ordem de Cristo, António Moniz da Silva, frade jerónimo e inquisidor local. Esta grande casa foi de tal forma alterada que, excepto nas dimensões grandiosas, no pátio e num par de elementos arquitectónicos — nomeadamente um arco serliano —, se torna muito difícil reconhecer os pormenores descritos por Pedro Álvares Seco, que nos dá conta da sua grandeza, da sua extensa varanda alpendrada “à romana”, das escadarias e salões, das janelas de peitoril e de sacada voltadas aos quatro pontos cardeais…
Mantém-se mais ou menos intacto o passadiço que o ligava ao Convento de Santa Iria, por baixo do qual se inicia a rua do mesmo nome. A austera janela de canto renascentista, cujo destino se desconhece mas cuja fotografia, pouco legível, foi ainda publicada, em 1927, por Vieira Guimarães, na sua obra de referência Thomar - Stª. Iria, teria sido um dos últimos sinais exteriores deste orgulhoso testemunho do poderio do homem de confiança do rei D. João III, senhor da decerto mais opulenta das casas nobres da cidade do Nabão…
Mais acima, limitado pela antiga Rua de Santo André — hoje dos Voluntários da República — o Palácio dos Valles, a família que mandou erigir a capela lateral da mesma Igreja — de que é actual proprietária —, contendo o belíssimo Calvário em pedra de Ançã, atribuído ao escultor João de Ruão, mestre da “Renascença Coimbrã” e provável autor de outras excelentes obras de arte da região, muito especialmente o portal da Igreja da Atalaia.
O Palácio dos Valles foi muito modificado relativamente à sua traça quinhentista, podendo apreciar-se ainda, do exterior, o largo portão ornado com volutas e o campanário, na esquina com a referida Rua dos Voluntários da República, atestando de algum modo os seus pergaminhos (Fig.1). Da “vandálica transfiguração” desta casa foi testemunha Amorim Rosa.
Outras boas casas e elementos arquitectónicos do século XVI dão carácter a muitas das ruas de Tomar. Sem desejar ser exaustivo, referirei apenas mais alguns exemplos.
A belíssima janela renascença da Rua do Camarão (Fig.2), talvez a mais elaborada da Cidade; a casa da Rua de S. João, a casa da Rua de Infantaria 15, com as suas janelas de verga decorada e aventais de decoração geométrica, bastante degradadas; e a casa quinhentista da Rua da Palmeira, restaurada recentemente, com janelas de avental rústico, simples mas de belo efeito.
FOTOS: C.Veloso
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