sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019



A CASA DOS PATUDOS DE ALPIARÇA

Carlos Rodarte Veloso

“O Templário”, 21 de Fevereiro de 2019


            A Casa dos Patudos em Alpiarça, mandada construir no início do século passado pelo grande político e estadista da República, intelectual e filantropo José Relvas, obra cometida ao arquitecto Raul Lino, é um solar de dimensões consideráveis, dispondo de 101 divisões, decoradas e recheadas com milhares de obras de arte de todas as categorias, desde a pintura e a escultura às artes decorativas e à música, representando o que de melhor existe em Portugal.
            A arquitectura deste solar integra-se no historicismo neomedieval então em voga no nosso país, associado a uma forte tendência no sentido da valorização da “casa portuguesa” de que este arquitecto seria um notável defensor e promotor, tanto na teoria como na prática.

Fig.1

            Seria difícil resumir a fabulosa variedade e abundância de obras de arte aqui existentes, para além da riqueza humana de informação sobre o proprietário e seus familiares e a tragédia que se abateu sobre a sua família. De facto, a morte por suicídio do seu último filho e herdeiro, segundo parece fugindo a um casamento imposto pela própria mãe, foi o golpe de misericórdia na própria unidade familiar, e teria motivado a herança da totalidade do seu património ao povo e à autarquia de Alpiarça depois da separação “de facto” dos dois cônjuges.
            No entanto, não é o Romantismo que forma o cerne das suas simpatias artísticas, mas o Realismo, apesar da presença, na sua colecção, de obras de Miguel Lupi e Tomás da Anunciação, pintores românticos por excelência.
            As amizades pessoais de José Relvas, nomeadamente com Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro, Silva Porto, José Malhoa e Soares dos Reis, além do próprio Raul Lino, e ainda de Costa Mota, Teixeira Lopes, Marques de Oliveira, Roque Gameiro, e Constantino Fernandes, cujo espólio, desde estudos a obras acabadas, rechearam com as suas obras os aposentos desta notável Casa.
Esta diversidade é acompanhada de valiosíssimas peças de artistas de outras épocas, nações e sensibilidades como Francisco Henriques, Josefa de Óbidos, Machado de Castro, Vieira Portuense, Domingos António Sequeira, e Delacroix, Romney, Murillo, Zurbaran, além de seleccionado mobiliário, tapeçaria, azulejaria e faiança, e preciosa porcelana, de que destaco dois notáveis conjuntos de Meissen (“Apolo e as 9 Musas” e “Alegoria das Artes”), além de excelentes serviços de Sèvres e Companhia das Índias.
            Esta enumeração apenas peca por defeito, representando a mais rica colecção de Arte existente em Portugal fora dos grandes centros populacionais.

Fig.2
  
Fig.3

Fig.4



Imagens (Fotos de C.Veloso):
1.      Vista geral da Casa dos Patudos
2.      Columbano, “O Atelier de Silva Porto”
3.      Teixeira Lopes, “Caim”
4.      Porcelana de Meissen

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