A CASA DOS PATUDOS DE ALPIARÇA
Carlos Rodarte Veloso
“O
Templário”, 21 de Fevereiro de 2019
A Casa dos Patudos em Alpiarça, mandada construir no início do século
passado pelo grande político e estadista da República, intelectual e filantropo
José Relvas, obra cometida ao arquitecto Raul Lino, é um solar de dimensões
consideráveis, dispondo de 101 divisões, decoradas e recheadas com milhares de
obras de arte de todas as categorias, desde a pintura e a escultura às artes
decorativas e à música, representando o que de melhor existe em Portugal.
A arquitectura deste solar
integra-se no historicismo neomedieval então em voga no nosso país, associado a
uma forte tendência no sentido da valorização da “casa portuguesa” de que este
arquitecto seria um notável defensor e promotor, tanto na teoria como na
prática.
Fig.1
Seria difícil resumir a fabulosa
variedade e abundância de obras de arte aqui existentes, para além da riqueza
humana de informação sobre o proprietário e seus familiares e a tragédia que se
abateu sobre a sua família. De facto, a morte por suicídio do seu último filho
e herdeiro, segundo parece fugindo a um casamento imposto pela própria mãe, foi
o golpe de misericórdia na própria unidade familiar, e teria motivado a herança
da totalidade do seu património ao povo e à autarquia de Alpiarça depois da
separação “de facto” dos dois cônjuges.
No entanto, não é o Romantismo que
forma o cerne das suas simpatias artísticas, mas o Realismo, apesar da
presença, na sua colecção, de obras de Miguel Lupi e Tomás da Anunciação,
pintores românticos por excelência.
As amizades pessoais de José Relvas,
nomeadamente com Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro, Silva Porto, José Malhoa
e Soares dos Reis, além do próprio Raul Lino, e ainda de Costa Mota, Teixeira
Lopes, Marques de Oliveira, Roque Gameiro, e Constantino Fernandes, cujo
espólio, desde estudos a obras acabadas, rechearam com as suas obras os
aposentos desta notável Casa.
Esta
diversidade é acompanhada de valiosíssimas peças de artistas de outras épocas,
nações e sensibilidades como Francisco Henriques, Josefa de Óbidos, Machado de
Castro, Vieira Portuense, Domingos António Sequeira, e Delacroix, Romney,
Murillo, Zurbaran, além de seleccionado mobiliário, tapeçaria, azulejaria e faiança,
e preciosa porcelana, de que destaco dois notáveis conjuntos de Meissen (“Apolo
e as 9 Musas” e “Alegoria das Artes”), além de excelentes serviços de Sèvres e
Companhia das Índias.
Esta enumeração apenas peca por
defeito, representando a mais rica colecção de Arte existente em Portugal fora
dos grandes centros populacionais.
Imagens (Fotos de
C.Veloso):
1. Vista geral da Casa dos Patudos
2.
Columbano,
“O Atelier de Silva Porto”
3.
Teixeira Lopes, “Caim”
4. Porcelana de Meissen
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