quinta-feira, 10 de agosto de 2017


A TORRE-MIRANTE DE SANTA CRUZ, UM AR DA TOSCANA NA REGIÃO OESTE DE PORTUGAL

Carlos Rodarte Veloso


A Torre-Mirante voltada ao mar na Praia de Santa Cruz, próximo de Torres Vedras, é um exemplo de edifício filiado nos gostos revivalistas do património edificado do nosso País que marcam a segunda metade do século XIX e a primeira do XX.
Tenho por esse edifício uma especial estima por ser neto do autor do projecto, o Engº Celestino Germano Rodarte de Almeida, tendo publicado em 7 de Dezembro de 2007, no jornal “Badaladas” de Torres Vedras, um artigo alertando para o estado de conservação lamentável em que se encontrava este interessante edifício.


Lamentavelmente, escasseiam na minha família dados rigorosos sobre a data da construção da Torre bem como dos seus encomendantes, e a minha irmã, Maria Teresa Rodarte Veloso Serrano, em 16 de Junho desse ano, deu disso conhecimento público no Fórum de Torres Vedras.
Pelo desenvolvimento da questão e o perigo de iminente ruína em que a obra se encontrava, sentimos então o dever de vir a público avançar algumas razões que, pelos seus resultados, algumas obras de conservação e pintura que depois foram feitas, pareceram justificar.
Ora a Torre-Mirante de Santa Cruz, independentemente das funções que o seu encomendante lhe reservava, é um exemplo, bastante raro nesta região, de Revivalismo historicista, neste caso apontando claramente para um Neo-Gótico e um Neo-Românico de raiz italianizante. O perfil da torre de Santa Cruz é claramente inspirado no corpo principal até ao primeiro registo da Torre del Mangia, que domina a belíssima Piazza del Campo de Siena. Há também alguns paralelismos com a Torre do Palazzo della Signoria de Florença, excepto ao nível dos merlões, que nesta são bifurcados. Quanto ao corpo onde assenta a Torre de Santa Cruz, parece claramente inspirada na colunata românica do Campanille de Pisa, a famosa Torre Inclinada. Em resumo, tudo aponta para uma filiação assumida na elegantíssima arquitectura medieval da Toscana, a qual viria a ter continuidade no – tão seu! – milagre renascentista.
Parece-me especialmente interessante e um pouco contra a corrente tão nacionalista do revivalismo português, geralmente Neo-Manuelino ou Neo-Mourisco, como podemos apreciar no Palácio da Pena de Sintra, a poucos quilómetros de Torres Vedras, esta assunção dum gosto cosmopolita numa época ferozmente xenófoba e orgulhosamente ignorante em matéria das influências artísticas europeias.
Como torriense que sou, embora há largos anos afastado da terra natal, continuo-lhe afectivamente ligado e, por isso, tanto mais desgostoso pela descaracterização que há largos anos vem atingindo a minha Cidade, a caminho de se tornar mais um dormitório de Lisboa. Esse sentimento não poderia deixar de ser agudizado perante a ruína em que a Torre se encontrava, apesar da sua qualidade estética e originalidade, e, ainda mais, pelos laços familiares que a ela me unem.
As melhorias efectuadas na Torre apontam-na para ex-libris daquela popularíssima Praia e, como tal fá-la-iam merecer a classificação, no mínimo, de imóvel de interesse público. Os meus conhecimentos técnico-artísticos como professor aposentado de História da Arte do Instituto Politécnico de Tomar autoriza-me a interceder nesse sentido.
Se esta ideia encontrar eco entre os meus concidadãos, dirijo à Autarquia torriense um convite para deliberar as providências consideradas apropriadas para esse propósito que, creio, valorizaria consideravelmente aquela Praia e o nosso Município.



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