TRAQUINICES APOCALÍPTICAS
Carlos Rodarte Veloso
"O Templário", 17-8-2017
A escalada de violência verbal entre Donald Trump e Kim Jong-un poderia até
ser divertida dado o comportamento infantil dos dois “líderes”, que recordam,
pelo seu comportamento irresponsável, dois miúdos mimalhos do Ensino Básico que
se ameaçam mutuamente de se esganar assim que chegar a hora do recreio...
Mas as coisas são muito menos divertidas, dados os meios de que dispõem
estes dois “miúdos”, doidos varridos, desejosos de experimentar os seus
perigosos brinquedos, nada menos do que mísseis com ogivas nucleares e todo um
acompanhamento de meios navais e aéreos, capazes de derreter países e
populações num abrir e fechar dos olhos.
A pequena ilha de Guam, hoje possessão norte-americana do Pacífico, à
distância de 3000 quilómetros da Coreia do Norte, é o alvo escolhido pelo
ditador de Pyongyang para bombardear com três ogivas nucleares, que assegura
estarem quase prontas e disponíveis para disparar em meados deste mês de
Agosto... É esta a resposta “musculada” à parafernália de ameaças de Trump,
recheadas com “fogo e fúria como o mundo nunca viu”, discurso com ressonâncias
bíblicas porventura inspirado no “Apocalipse segundo S. João”-
Se tudo se ficar pelas palavras, como a maioria da população mundial espera
e tem sido a experiência conhecida, esta seria apenas mais um episódio caricato
da relação entre estes dois “bebés gigantes”.
No entanto, nunca como agora foi pormenorizado e programado de tal maneira
um plano de ataque e aniquilamento de uma ilha habitada por 162 000 civis
e 6000 militares, com a frieza que só os hábitos totalitários do seu autor
explicam.
Entretanto, do outro lado, não vemos em Trump a consciência de que o
diálogo poderia estancar esta ameaça, como acontreceu no já longínquo ano de
1962, quando os dois verdadeiros líderes mundiais que foram John Kennedy e
Nikita Krushchev evitaram à justa uma guerra mundial, durante a famosa “crise
dos mísseis de Cuba”. Mas ambos revelaram a vontade de salvar o planeta e
fizeram-no através do diálogo e de
mútuas cedências.
Como nota de rodapé, a ilha de Guam foi descoberta pelo português ao
serviço de Espanha, Fernão de Magalhães, em 6 de Março de 1521, durante a
primeira viagem de circum-navegação deste planeta. As vicissitudes
geo-políticas transformaram-na, nos nossos dias, numa possessão
norte-americana, tal como Pearl Harbour, cujo bombardeamento nipónico levou à
entrada dos EUA na 2ª Guerra Mundial. Estes paralelismos históricos lembram
ainda uma das cidades japonesas destruídas com bombas atómicas, a cidade de
Nagasáqui, tal como Guam, ligada de algum modo à expansão marítima portuguesa.
Será que a História se repete?
Faltam apenas uns dias para “os meados de Agosto”, e a concretizar-se a
ameaça norte-coreana, será impossível estancar as consequências desse ataque e
das represálias com que o outro “puto” se prepara para incendiar o Pacífico.
Algumas cidades destruídas, uma Coreia do Norte arrasada, dirão os mais
optimistas...
E a radioactividade residual, arrastada pelos ventos e as correntes marítimas
para todo o mundo, o consequente reforço do aquecimento global e os danos
indirectos, materiais e humanos nos países da área dos ataques nucleares? Pelos
vistos nada disto conta, excepto o gigantesco ego de um pseudo-líder que, não
conseguindo exercer a sua chantagem no seu próprio país o faz a nivel global. À
nossa custa!
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