sexta-feira, 23 de dezembro de 2016


A ODISSEIA: ONDE NASCEM OS CONTOS
Publicado n’O Templário de 22 de Dezembro de 2016

Frederico Lourenço, um dos mais completos homens de Cultura deste País, para além das dezenas de magníficas obras de ensaio e ficção de sua autoria, é tradutor emérito do Grego Antigo, competência essa que lhe permitiu produzir as traduções mais fidedignas e apaixonantes de obras-charneira da Cultura universal como A Ilíada e a A Odisseia de Homero (edição de Livros Cotovia), tendo agora editado o 1º volume da Bíblia (da Quetzal Editores) traduzida directamente do Grego helenístico e se acredita como a versão menos contaminada pela Teologia católica que, de muitas formas manipulou os conteúdos, conclusões e interpretações do Livro sagrado de Judeus e Cristãos.
Mas não é da Bíblia que agora me ocuparei, mas da sua maravilhosa tradução da Odisseia, para mim uma das obras máximas da Literatura, escrita cerca de 700 a.C. por um ou vários poetas que conhecemos sob o nome – pseudónimo – de Homero.
Narra esta obra as aventuras de Ulisses, rei de Ítaca e um dos líderes dos Gregos no cerco e destruição de Tróia. É ele o inventor do “Cavalo de Tróia”, a artimanha usada para conquistar a cidade condenada pelos deuses olímpicos à ocupação e destruição. Essa parte da narrativa, A Ilíada, descreve os dez anos de lutas em redor de Tróia e a morte do seu principal defensor, o príncipe Heitor às mãos do herói Aquiles.
Os dez anos subsequentes à destruição da cidade são ocupados pelas aventuras de Ulisses em demanda da sua pátria longínqua, onde a cobiça do seu trono por pretendentes locais, impõe à sua mulher, Penélope, o arquétipo da fidelidade conjugal, e a seu filho Telémaco, seu digno descendente, a resistência habilidosa com que foram adiando o reconhecimento de um facto julgado já adquirido, o da morte do herói.
As aventuras de Ulisses, cujo apoio da mais importante deusa de toda a Hélade, Atena, garantirá a sobrevivência sobre as ondas de um mar hostil dominado pelo seu poderoso soberano, o deus Poseidon, são o conjunto de narrativas com final feliz que de alguma forma são a génese – hoje dir-se-ia a “incubadora” – de toda a ficção ocidental.
Desde a ilha de Circe ao episódio de Polifemo, o gigante filho de Poseideon, às Sereias e aos monstros marinhos de Cila e Caríbdis, aos encantos da ninfa Calipso e à descida de Ulisses ao Hades – os Infernos da mitologia grega - à chegada à ilha dos Feaces, a actual Corfu e, finalmente, ao reconhecimento de Ulisses pelos seus entes queridos e a sua subsequente e sangrenta vingança contra os pretendentes, aqui encontramos toda a matéria que alimentou o imaginário popular e erudito de tantas gerações até este momento.
Essa herança está nas origens de contos populares de todas as culturas e de obras básicas da Literatura universal, de Virgílio a Camões, de Dante a Shakespeare, de Cervantes a Joyce.
Conhecer A Odisseia é um acto básico de Cultura. E não há razões para continuar a ser ignorada do grande público, tanto na sua forma total como em versões adaptadas para jovens. Par mim, a tradução de Frederico Lourenço e a sua adaptação com o mesmo nome, são a melhor resposta a essa necessidade.

É o “Cavalo de Tróia” para o regresso desta obra à formação individual e colectiva das novas gerações, tão ignorantes deste autêntico tesouro criado há mais de dois mil e setecentos anos.

 



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