sábado, 31 de dezembro de 2016


ARTE E CULTURA GERAL
Carlos Rodarte Veloso
(Publicado na Correio Transmontano em 30-12.2016)
(Artigo modificado publicado no Cidade de Tomar em 13-3-1998)

            Quando nos perguntamos sobre os motivos da fraquíssima cultura geral manifestada pela grande maioria da população que frequentou o nosso Ensino Secundário, surgem sempre várias respostas que, no seu conjunto, decerto explicarão esse facto indesmentível. Para começar, existe um deficiente ensino da Língua Portuguesa e essa lacuna reflecte-se nos hábitos de leitura que, por sua vez, colocam o comum dos cidadãos à mercê dos meios de informação mais imediatos, como a televisão, a rádio e a Internet que, com muitas honrosas excepções, estão muitas vezes apostados apenas na conquista de audiências pouco exigentes e, assim, se limitam a difundir informação cultural o mais superficial possível e até errónea sobre os mais diversos temas. Essa superficialização da cultura afecta gravemente as possibilidades dos indivíduos para a compreensão efectiva do mundo que os rodeia. Essa deficiência leva-os a conhecer, por vezes, os nomes de muitos dos grandes vultos da humanidade, mas sem os relacionar minimamente com as suas obras. No fundo, simples trivialidades.
            Outro importante sector da referida cultura geral é, sem dúvida, o artístico. Muita gente conhece a “Gioconda” ou a “Última Ceia” de Leonardo, mas do mesmo modo que conhece a Torre de Belém e o Manuelino, ou o Convento de Cristo e Gualdim Pais, ou a “5ª Sinfonia” de Beethoven… Associa-se também alguns artistas às altíssimas cotações atingidas pelas suas obras no mercado internacional … Van Gogh, Picasso, Rembrandt, são mais “conhecidos” pelos milhões que “valem” os seus quadros do que pelo que pela sua arte! São associações automáticas, não correspondendo, na maioria dos casos, a um verdadeiro conhecimento das coisas, das causas ou dos efeitos. Trata-se apenas de dinheiro.
            O mesmo se passa noutras áreas cujo conhecimento público se situa ao nível mais elementar como acontece com as diversas Ciências, com a Literatura e a Filosofia.
             Sem querer de modo algum depreciar estas últimas, seja-me permitido debruçar-me muito brevemente sobre o papel fundamental da Arte na formação global de cada indivíduo, especialmente importante no que toca aos jovens, mais ainda por constituírem o grupo mais permeável às mais negativas solicitações do meio.
            Acontece que a atitude estética é tão antiga como a humanidade e os vestígios dessa actividade cobrem todo o planeta. A produção artística e a sua fruição, valores  sem preço, são vitais para o equilíbrio das sociedades, passadas ou actuais: as suas representações atravessaram os séculos e os milénios, continuando a sensibilizar esteticamente as gerações do nosso tempo, mesmo na ignorância total ou quase dos códigos utilizados, e dos contextos em que foram geradas. Não sabemos quais as reais intenções dos artistas que gravaram as figuras de animais nas rochas de Foz Côa (fig.1), mas essas belas  imagens tocam a nossa sensibilidade muitos milénios depois da sua produção. O mesmo poderemos dizer de outras obras de arte de todas as épocas, desde a já citada “Última Ceia”(fig.2) às pinturas de Van Gogh (fig.3).
            Se pensarmos que o património artístico é parte fundamental da memória colectiva de um povo e essencial para a afirmação da sua identidade cultural, não teremos quaisquer dúvidas  sobre o seu valor na formação individual, muito especialmente numa época como a nossa, em que mais e mais se esbatem as fronteiras políticas.
            Mas tão importante como a identificação dos estilos, das obras e dos artistas, é o conceito de Beleza, tão procurado por filósofos e artistas, a própria Máscara da realidade que a Arte acaba sempre por assumir, por muito “realista” que queira parecer… Sem sensibilidade para as formas artísticas, para o seu conteúdo ou códigos, é impossível qualquer aproximação ao fenómeno estético. Um indivíduo que lhe seja insensível bem poderá “brilhar” em sociedade com o papaguear de nomes, pinturas, esculturas, museus, sinfonias… Poderá ganhar concursos “culturais” na televisão, na rádio ou na Internet… No fundo, não passará de um ignorante pomposo… e quantos não haverá por aí?…

            Como acontece com tudo o que diz respeito à Cultura, é ao Ensino que cabe a principal responsabilidade numa alteração radical deste estado de coisas. No fundo trata-se, “simplesmente”, de pôr as pessoas a pensar!




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